10.25.2006

 
NOTA SOBRE ESTUDOS DE MÍDIA ÉTNICA

por Sátira Machado

A Imprensa chega ao Brasil em 1808 e em 1833 os afro-brasileiros já editavam periódicos, dando visibilidade às questões étnico/raciais através de uma imprensa alternativa negra.

A brasileira Profª Drª Raquel Paiva salienta que na sociedade contemporânea a identidade construída a partir de uma estrutura social, antes determinada pelas mediações tradicionais como a família, a religião, o Estado, a escola e o trabalho, é atravessada pela estrutura da mídia, que assume um lugar social.

No exercício de elaboração da identidade negra, ao longo dos anos, os afro-brasileiros apropriam-se de jornais, de revistas, de rádios, do cinema, da televisão, da web, entre outras mídias e passam a incluir os meios de comunicação em suas estratégias de reconhecimento.

O estadunidense Prof. Dr. John Thompson elabora uma teoria social da mídia e salienta que os teóricos sociais têm dado pouca importância ao poder simbólico dos meios de comunicação, que vem transformando o mundo desde a crescente circulação de materiais impressos no século XV até o advento da Internet.

Estudos sobre a Imprensa Negra do Brasil têm se multiplicado nos núcleos de pesquisas das Universidades como: Grupo de Estudos em Mídias e Etnicidades, da Faculdade de Comunicação (Facom), da Universidade Federal da Bahia (criado em 1997); o Grupo Mídia e Etnia, da ECA/USP (criado 2002); o Departamento de Estudos Culturais e Mídia (GEC), do Instituto de Artes e Comunicação Social (IACS), da Universidade Federal Fluminense (criado em 2003); e também o Grupo Mídia e Multiculturalismo, coordenado pela Profª Denise Cogo, do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Unisinos, que também inclui pesquisas sobre a relação entre a mídia e os afro-brasileiros.

10.23.2006

 
NÚCLEO DE JORNALISTAS AFRO-DESCENDENTES
DO SINDICATO DOS JORNALISTAS PROFISSIONAIS DO RIO GRANDE DO SUL


por Santa Irene, Jeanice Ramos e Vera Daisy Barcellos

O Núcleo de Jornalistas Afro-descendentes do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul foi criado em 2001, para atender as demandas do Comitê Afro-Brasileiro do Fórum Social Mundial. A necessidade foi repassada a jornalistas militantes do Movimento Negro, durante o ano de 2000, depois de os negros de todo o mundo terem enfrentado enormes dificuldades para tornarem visíveis sua participação e ações durante o I Fórum Social Mundial, sem nenhum apoio para a divulgação de sua participação.

As constatações do Movimento Negro organizado comprovavam a invisibilidade dos negros no Brasil e o desinteresse dos veículos de comunicação por suas causas e ações.

Em meados de 2000 a demanda foi encaminhada à Diretoria do Sindicato dos Jornalistas e indicado o nome da Jornalista Santa Irene Lopes de Araújo (militante do Movimento) para atuar na coordenação do Núcleo na Comissão do Comitê Afro-Brasileiro. Receptiva à solicitação, a diretoria sugeriu, então, a criação de um Núcleo, que congregaria jornalistas afro-descendentes e daria apoio durante o II Fórum Social Mundial em 2001.

No primeiro momento o Núcleo foi constituído pelas jornalistas Santa Irene e Jeanice Ramos, que convidaram outros colegas afro-descendentes para definirem a linha política e as ações do Núcleo.

Desde então algumas reuniões foram realizadas, com apoio do presidente do Sindijor, José Carlos Torves e outros membros da diretoria. Mas as dificuldades de identidade e de comprometimento orgânico com as demandas da etnia, que permeiam historicamente a sociedade brasileira, foi um obstáculo intransponível, impedindo que o Núcleo tomasse forma. Mesmo assim, com esforço de alguns, muitas tarefas foram cumpridas e o Núcleo esteve presente em diversas atividades organizadas pelo Movimento Negro, nestes três anos.

Ao mesmo tempo em que os incentivadores do Núcleo encontravam resistência dos jornalistas à participação orgânica, comunicadores de emissoras de rádio, televisão, veículos comunitários (jornais e rádios), relações públicas e publicitários afro-descendentes participavam voluntariamente e manifestavam a vontade de se integrarem ao Núcleo.

Durante as comemorações da Semana da Consciência Negra de 2003, no Quilombo Zumbi dos Palmares, comunicadores de diversas áreas passaram a colaborar voluntariamente com o Núcleo. Foi decidida, então, a formalização do Núcleo de Comunicadores Afrodescendentes no Sindijor-RS, que hoje conta com um cadastro de 64 comunicadores, dos quais 32 participam eporadicamente e nove estão atuando de forma permanente, discutindo as questões da etnia nos meios de comunicação, buscando a definição de políticas que reconheçam e legitimem suas especificidades, manifestações culturais e forma de viver próprias, legados deixados à população brasileira pelos ancestrais africanos. Os profissionais de comunicação afro-brasileiros preocupam-se e buscam – cumprindo seu dever de ofício – o reconhecimento, valorização e respeito pelas características específicas de sua etnia nos meios onde atuam profissionalmente e em todas as instâncias sociais, políticas e econômicas do Estado e do País.

CONFIRA NO SITE www.jornalistas-rs.org.br

TESES APROVADAS NOS CONGRESSOS:

XXXI Congresso Estadual dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul
XXXI Congresso Nacional dos Jornalistas / João Pessoa – Paraiba/2004

SEMINÁRIO:"O Negro na Mídia - a Invisibilidade da Cor"

Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket

O Negro na Mídia: a invisibilidade da cor. Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio Grande do Sul. Núcleo de Comunicadores Afro-brasileiros. Porto Alegre, Sindjor, 2005.

 
MÍDIA NEGRA: APONTAMENTOS

Palestra proferida por Sátira Machado, na III Jornada de Estudos Afro-Brasileiros do GT Negros da ANPH, no Memorial do Rio Grande do Sul, em 2005.

Os meios de comunicação têm um papel importante na desconstrução das desigualdades sociais no Brasil que atingem diretamente os afro-brasileiros . No século XXI, já não basta dar visibilidade ao fenótipo negro na mídia. À luz da responsabilidade social, a mídia deve respeitar a história, a memória e a tradição dos afro-brasileiros. Deve valorizar a participação cultural, social e econômica da comunidade negra no desenvolvimento do Brasil bem como, noticiar aspectos positivos do continente africano.

Neste trabalho, ao listar diversas informações, pretendo estimular novas investigações e reflexões sobre a relação entre os afro-brasileiros e a mídia, sem a pretensão de esgotar o tema que é rico, dinâmico, suscita muitas e muitas leituras, mais e mais debates.

MÍDIA NO SÉCULO XXI:
NÓS SOMOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO


Na sociedade contemporânea, a identidade construída a partir de uma estrutura social, antes determinada pelas mediações tradicionais como a família, a religião, o Estado, a escola e o trabalho, agora é atravessada pela estrutura da mídia, que assume um lugar social ao ditar condutas padronizadas para diferentes populações (PAIVA, 2001).

John Thompson elabora uma teoria social da mídia e salienta que os teóricos sociais têm dado pouca importância ao poder simbólico dos meios de comunicação, que vem transformando o mundo desde a crescente circulação de materiais impressos no século XV até o advento da Internet (THOMPSON, 1998).

Na atualidade, a comunicação é interpretada como um processo simbólico que transforma a realidade. A interação com os meios envolvem reelaborações realizadas pelos sujeitos, influenciados por seus grupos sociais e culturais. Nesse contexto, o sentido de cultura passa a ter relação com a produção de sentidos, deixando de ser apenas recebida, agora considerando o sujeito um agente, criativo, que pratica cultura. Carregada de intervenções, o ambiente da comunicação e da cultura inclui as disputas, os conflitos e os enfrentamentos nas relações de poder de uma sociedade dinâmica e plural.

Conscientes disso, afro-brasileiros comunicam-se cada vez mais e apropriam-se de jornais, filmes, rádios, revistas, vídeos, da televisão e da Internet, entre outros meios de comunicação, para a afirmação da identidade negra.

IMPRENSA NEGRA:
CONTRA O MITO DA DEMOCRACIA RACIAL


A Imprensa chega ao Brasil em 1808 e desde 1833 os afro-brasileiros editam periódicos para reagir ao mito da democracia racial brasileira, dando visibilidade às questões raciais através de uma imprensa alternativa negra, num contraponto à grande imprensa brasileira.

Nas décadas de 30 e 40, a teoria de Gilberto Freyre sobre a democracia racial brasileira, baseada na miscigenação sexual, era aceita pelos intelectuais da cultura dominante, mas contestada pela imprensa negra. Nos anos 50 e 60, novas concepções da identidade nacional foram estudadas por Florestan Fernandes e revisionistas da Unesco – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, questionando o mito da democracia racial. (ANDREWS, 1997).

Os geneticistas têm desmoralizado o conceito de raças. No entanto, o Movimento Negro baseia o conceito de raça na dimensão social e política do termo, uma vez que quando se fala em racismo no Brasil logo se pensa no negro. A discriminação racial brasileira tem relação com aspectos culturais, sociais, econômicos, físicos e estéticos, que atingem diretamente os afro-brasileiros. Construir uma identidade negra positiva na sociedade brasileira, que ensina aos negros que para ser aceito é preciso rejeitar seu jeito de ser, é um desafio para todos os brasileiros (GOMES, 2005).

No exercício de elaboração da identidade negra , ao longo dos anos, os afro-brasileiros publicaram vários jornais. No Rio Grande do Sul, a imprensa negra é legitimada com periódicos como: O Exemplo (Porto Alegre, 1892-1930, num total de 37 anos de publicação), A Cruzada (Pelotas, 1905), A Alvorada (Pelotas, 1907- 1910, 1930 – 1937 e 1946 – 1957), A Navalha (Santana do Livramento, 1931), A Revolta (Bagé,1925), A Hora (Rio Grande, 1917-1934), entre outros (SANTOS, s/d).

Jacira Reis da Silva estuda as mulheres negras e a participação delas na luta por educação através do jornal A Alvorada, de Pelotas. Ela ressalta o papel alternativo desse periódico na formação cultural e educacional da comunidade negra, bem como a presença marcante das mulheres negras na imprensa negra pelotense. Diz que o significado do jornal A Alvorada torna-se ainda maior, na medida em que ele é portador das vozes de mulheres negras, em períodos históricos onde o espaço público, ainda, é predominantemente ocupado por homens brancos (SILVA, 2001).

Ainda no RS, Oliveira Silveira destaca a publicação de informativos de clubes fundados pela sociedade negra, a exemplo de alguns periódicos ligados a Associação Satélite Prontidão, ao Clube Náutico Marcílio Dias e a Sociedade Floresta Aurora. Em 1971, Ano Internacional para Ações de Combate ao Racismo e a Discriminação Racial – ONU, a grande imprensa gaúcha abre espaço para a divulgação da primeira evocação ao "Dia Nacional da Consciência Negra” do Brasil, que foi celebrado na sede do Clube Marcílio Dias, em Porto Alegre. A escolha da data foi fruto de encontros de negros na Rua dos Andradas, que resultou na criação do Grupo Palmares, do movimento negro do Rio Grande do Sul (SILVEIRA, 2003) .

Nas décadas de 70 e 80, Tição é o marco da imprensa negra gaúcha. Redatores como Edilson Nabarro, Irene Santos, Jeanice Viola, Jones Lopes, Jorge Freitas, Oliveira Silveira, Valter Carneiro, Vera Daisy Barcellos, Vera Lúcia Lopes, fotógrafos, ilustradores, colaboradores, editores gráficos e muitos outros comunicadores negros publicam o Tição (Revista 1978 – 1979 e Jornal em 1980), motivando o debate sobre as várias faces da negritude (SILVEIRA, 2005).

DIREITO À COMUNICAÇÃO:
QUESTÃO DE DIREITOS HUMANOS (DH)


A ONU – Organização das Nações Unidas foi instituída em 1945, por vários estados-membros. Em 1948, a Assembléia Geral da ONU aprovou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, um instrumento de proteção dos DH que atribui à “Toda pessoa o direito (...) de buscar, receber e enviar informações”.

Após a Segunda Guerra Mundial (1949) foram criados dois Sistemas Internacionais de Proteção de Direitos Humanos, os sistemas Global e Regionais. Os sistemas encontram-se em reuniões, assembléias, cúpulas e realizam conferências mundiais para receber recomendações dos estados-membros. Elaboram declarações, convenções, pactos, tratados, protocolos, programas de ação e comentários gerais que são adotados por comitês, cortes e comissões responsáveis por análises de petições e publicações de relatórios pertinentes aos DH.

O Sistema Global está ligado às Nações Unidas e os Sistemas Regionais abrangem o Sistema Europeu, o Sistema Africano e o Sistema Interamericano da OEA - Organização dos Estados Americanos. Em 1963, a ONU aprovou a Declaração das Nações Unidas para a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial (ALMEIDA, 2006).

Desde então, a mídia passa a ser alvo de denúncias contra a violação dos Direitos Humanos. Por exemplo, em 1968, o presidente Lyndon Johnson dos EUA, reconhecendo as ações discriminatórias da mídia estadunidense, recomenda a formação da Comissão Kerner, em prol da preservação dos direitos civis dos afro-descendentes norte-americanos na mídia (CONCEIÇÃO, 2005).

Na década de 70, a ONU patrocinou a publicação do Relatório Mac Bride. Nele, a Comissão Internacional para o Estudo dos Problemas de Comunicação a respeito da Nova Ordem Mundial da Informação e da Comunicação – NOMIC incluiu a diversidade cultural nas questões de mídia. No Brasil, organizações como a CRIS Brasil, Intervozes, Jornal Brasil de Fato, Instituto de Mídia Étnica, Projeto Calaboca Já Morreu, Sociedade Cultural Dombali, entre outras frentes, muito têm trabalhado pelos DH na mídia.

Em 25 de fevereiro de 2005, o presidente da CIDH – Comissão Interamericana de DH da OEA, Clare K. Roberts (negro), criou a Relatoria Especial sobre os Direitos dos Afro-descendentes e contra a Discriminação Racial, passando a recomendar reparações efetivas a cerca da violação dos DH nas Américas . Em junho de 2005, Clare Robert recebeu a comissão de comunicadores afro-brasileiros, presentes na 1ª Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial. A comissão elaborou um diagnóstico nacional de como a mídia brasileira vem comprometendo a memória e a tradição da comunidade negra.

Em 2005, o ENCONTRO NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS: Direito Humano à Comunicação - um mundo, muitas vozes, realizado pela Câmara dos Deputados (Comissão de Direitos Humanos e Minorias – Fórum de Entidades Nacionais de Direitos Humanos) dá dimensão nacional à reflexão sobre as violações dos direitos dos afro-brasileiros na mídia, que está diretamente relacionado à propagação do racismo nos meios de comunicação brasileiros.

RACISMO NA MÍDIA:
A CONTRA PROPOSTA


Em 1995, por ocasião dos 300 anos da morte de Zumbi dos Palmares, assassinado em 1665, ocorreu a Marcha Zumbi quando o Movimento Negro brasileiro se reuniu na Esplanada dos Ministérios em Brasília, para reivindicar justiça social. Nesse ano, a Folha de São Paulo patrocinou uma pesquisa para medir o grau de preconceito racial do brasileiro, ofuscado pelo mito da democracia racial no país. O caderno especial lançado pela Folha foi chamado de “Racismo Cordial”, denotando a dissimulação do racismo no Brasil, que pode ser medido nas desigualdades sociais que atingem os afro-brasileiros (CONCEIÇÃO, 2005).

Muniz Sodré analisa o papel da mídia em produzir e reproduzir o preconceito, conceituando o racismo midiático. Sodré enumera quatro fatores que efetivam sua análise: 1) a negação, quando a mídia tenta negar a existência do racismo, apesar de noticiar casos de violações flagrantes; 2) o recalcamento, quando a História do negro no Brasil ou nas Américas não é divulgada de forma positiva na mídia; 3) a estigmatização, quando a mídia cria estereótipos que levam a discriminação; e 4) a indiferença profissional, quando a desvalorização – profissional e cultural – do comunicador negro atinge a mídia (SODRÉ, 1998).

Em 2006, por exemplo, a mídia gaúcha veiculou o episódio que envolveu os jogadores do Juventude de Caxias e do Grêmio. Durante a partida, o zagueiro Antonio Carlos ofendeu o jogador gremista Jeovânio (negro), ao referir-se a sua cor. Infelizmente, a mídia tem reduzido o debate sobre as questões que envolvem os afro-brasileiros supervalorizando violações flagrantes como o racismo no futebol ou divulgando debates conflitantes a respeito das cotas.

A imagem estereotipada do negro na teledramaturgia é uma das perspectivas estudadas pelo pesquisador Joel Zito Araújo no livro A negação do Brasil. Ao analisar 174 telenovelas do período de 1964 a 1997, ele aponta o tratamento dado à maioria das personagens negras na tevê, que ainda reforça o mito da democracia racial como mantenedor das desigualdades étnico-sociais no Brasil (ARAÚJO, 2000).

Em 2004, o filme do cineasta Joel Zito, “Filhas do Vento”, recebeu 8 Kikitos no Festival de Cinema de Gramado/RS. As declarações controversas do presidente do júri, Rubens Ewald Filho, que disse ser a prêmiação uma concessão no Estado mais racista do país, fez o elenco sugerir a devolução dos kikitos, chamando a atenção de todo o Brasil para as questões de racismo na mídia.

No XXVII INTERCOM (PUCRS/POA), Dennis de Oliveira e Maria Ângela Pavan apresentaram uma analise da novela Da Cor do Pecado, protagonizada por Taís Araújo na Rede Globo. Ao descrever as estratégias e movimentos das personagens, enumeram possibilidades de relações raciais veiculadas na trama, como: a) ao assumir a identidade racial negra e partir para a confrontação, há uma desqualificação da imagem da personagem através da punição ou isolamento; b) a postura abertamente racista, de segregação e abuso do poder, leva a desvalorização moral da imagem, à vitórias pontuais, mas numa perspectiva de derrota; c) a postura de passividade e de vitimização é assumida pela heroína da história; d) a postura de preconceito velado com possibilidades de abertura, denota tolerância; e) a postura de solidariedade é reforçada por normas morais pretensamente universais (OLIVEIRA, 2004).

Na Internet o racismo é explícito. A Agência Afro-Étnica de Notícias (Afropress) é um projeto da ONG ABC sem Racismo/SP que mantém o site www.afropress.com. A Afropress tem sofrido ataques de hackers racistas que a tiram do ar, ao provocar a lentidão do servidor que a hospeda e divulgam várias mensagens discriminatórias dirigidas ao jornalista Dojival Vieira. O Ministério Público identificou o hacker através de programas especializados de Internet. O criminoso está respondendo processo de racismo e várias entidades de mídia étnica realizaram campanhas de apoio à Afropress.

Na contramão da história da tevê brasileira, a TV DA GENTE foi ao ar no dia 20 de novembro de 2005. A TV DA GENTE é a primeira emissora brasileira que pretende dar ampla visibilidade ao universo dos afro-brasileiros na mídia. O canal é do músico, ator, apresentador e empresário afro-brasileiro José de Paula Neto (Netinho de Paula). O projeto inclui a contratação de uma maioria de profissionais negros, a veiculação da cultura africana e afro-brasileira em sua programação e a divulgação de produtos de consumo para afro-brasileiros. Em maio de 2006, a TV DA GENTE está no ar em São Paulo pelo canal 24 UHF, no Ceará pelo canal 19 UHF (local da concessão do canal) em Portugal pelo canal 8 da operadora Eletrônica Comunicações. Através de antena parabólica, os satélites transmitem para todo o Brasil, para a África, a Europa, parte da Ásia e da costa leste dos Estados Unidos e a transmissão ainda prevê o acesso via WEBTV ONLINE (www.tvdagente.com.br).

MEIOS DE COMUNICAÇÃO:
AÇÕES AFIRMATIVAS


O projeto de Lei Nº 3.198/2000, de autoria do senador Paulo Paim, institui o ESTATUTO DA IGUALDADE RACIAL. O estatuto tem o objetivo de combater a discriminação e as desigualdades raciais, bem como incluir a dimensão racial nas políticas públicas desenvolvidas pelo Estado. O capítulo VIII do estatuto versa sobre os meios de comunicação. Exige que a mídia respeite a herança cultural dos afro-brasileiros, dê visibilidade aos afro-brasileiros, dê oportunidades de trabalho aos comunicadores afro-brasileiros e seja punida se incitar à discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional na mídia (PAIM, 2003).

Em 2000, ocorreram várias reuniões nas Américas sobre iniciativas de combate ao racismo e todas as formas de discriminação. Em 21 de agosto de 2001, foi realizado o Seminário Mídia e Racismo na Universidade Cândido Mendes/RJ. Muitos dos comunicadores, dos profissionais, dos pesquisadores e dos artistas que participaram desse encontro representaram o Brasil na III Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Formas Correlatas de Intolerância, em Durban na África do Sul, entre 30 de agosto a 7 de setembro de 2001 .

Em janeiro de 2003, a Lei 10.639/2003 entrou em vigor. De autoria do deputado Ben Hur Ferreira e da deputada Esther Grossi, a lei torna obrigatório “o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira”, “o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil” e dá outras atribuições. A Lei 10.639/2003 tem mobilizado várias frentes, inclusive projetos de mídia, multiplicando as ações afirmativas em benefício da comunidade negra brasileira .

Criada em março de 2003 e ligada diretamente ao Governo Federal Brasileiro, a SEPPIR - SECRETARIA ESPECIAL DE POLÍTICAS DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL deu status de ministra à militante negra Matilde Ribeiro. De forma transversal, a ministra passou a influenciar todos os ministérios nas mesas de negociação, em prol da promoção da igualdade racial em várias áreas, impulsionado reflexões também na América Latina. A SEPPIR é uma conquista do Movimento Negro do Brasil e promove a igualdade racial da comunidade negra, mas também das comunidades indígena, cigana, árabe-palestina e judaica.

Entre várias outras ações, a SEPPIR mobilizou todos os Estados do Brasil ao propor a realização de conferências estaduais para a eleição de delegados que participaram da 1ª Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial – 1ªCONAPIR, em 2005. A SEPPIR e a Sub-Comissão de Comunicação da 1ªCONAPIR convidaram vários comunicadores, jornalistas e voluntários que atuam em meios de comunicação voltados para o público negro para a cobertura do evento. Os eixos temáticos da conferência nacional não previam um grupo de trabalho sobre políticas para a mídia. No entanto, tais comunicadores formaram um GT de Mídia Étnica e articularam a moção e o manifesto contra o apartheid midiático no Brasil. No documento, estabelecem diretrizes de comunicação a serem incluídos no Plano Nacional da Igualdade Racial, aprovados na plenária da Conferência.

Em 2005, Ano Nacional de Promoção da Igualdade Racial, a SEPPIR também lançou o projeto A Cor da Cultura (www.acordacultura.org.br), em parceria com a Petrobrás, o Cidan - Centro Brasileiro de Identidade e Documentação do Artista Negro, a TV Globo e a Fundação Roberto Marinho, por meio do Canal Futura.

No programa Ação da TV Globo, o apresentador Serginho Groisman passou a exibir várias reportagens sobre a cultura afro-brasileira, como por exemplo, as ações da ONG Maria Mulher em bairros de Porto Alegre. A ex-Big Brother Brasil I, Vanessa Melani Pascale Ekpenyong passou a ser a apresentadora infantil (negra) do projeto A cor da Cultura no Canal Futura. Nele, a série Livros Animados traz lendas e contos africanos e afro-brasileiros, além da produção dos principais autores e ilustradores nacionais, para crianças de todo o Brasil.

Vale ressaltar, que as múltiplas ações do Movimento Negro têm multiplicado a implantação de secretarias, assessorias e coordenadorias instaladas em órgãos públicos municipais, estaduais e federais para atender a demanda da promoção da igualdade racial, e que essas também incluem a temática da mídia em suas agendas.

ESTUDOS AFRO-BRASILEIROS:
A HORA E A VEZ DA ACADEMIA


Desde 1947, escolas de jornalismo são criadas no Brasil e posteriormente escolas de cinema e publicidade. Em 1960, as faculdades de comunicação surgem no ensino superior, incluindo as áreas de relações públicas, editoração, rádio e televisão. Em 1977, nasce a Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (INTERCOM), que ao longo dos anos tem motivado os pesquisadores a estudarem temas relacionados à mídia, à diversidade cultural e ao direito à cidadania.

Há anos, o jornalista e antropólogo Iosvaldyr Carvalho Bittencourt reflete sobre a invisibilidade do negro na mídia gaúcha. Ele foi um dos pioneiros a debater o tema nas salas de aula da Famecos - Faculdade de Comunicação da PUCRS, onde era professor (negro). Ele acredita que as escolas de comunicação são um importante instrumento de desconstrução do racismo na sociedade brasileira, para além das cotas.

No Brasil, segundo o Ministério da Educação, existem 324 cursos de jornalismo. Porém, somente nas últimas décadas, os estudos do negro na mídia são institucionalizados na academia com o Grupo de Estudos em Mídias e Etnicidades, da Faculdade de Comunicação (Facom), da Universidade Federal da Bahia (criado em 1997); o Grupo Mídia e Etnia, da ECA/USP (criado 2002); e o Departamento de Estudos Culturais e Mídia (GEC), do Instituto de Artes e Comunicação Social (IACS), da Universidade Federal Fluminense (criado em 2003), propiciando um impacto científico.

O Grupo Mídia e Multiculturalismo, coordenado pela Profª Denise Cogo, do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Unisinos, também inclui pesquisas sobre a relação entre a mídia e os afro-brasileiros. No Google, aparecem cerca de 117 núcleos de estudos sobre os afro-descendentes nas Universidades dos EUA (Historically Black American Colleges and Universities/USA). No Brasil, existem cerca de 30 centros de estudos com a temática do negro em várias áreas do conhecimento, que vem se multiplicando a cada ano. Os primeiros foram o Centro de Estudos Afro-Orientais (Ceao), da Universidade da Bahia (1960); o Centro de Estudos Afro-Asiáticos, da Universidade Cândido Mendes/RJ (1973); e o Centro de Estudos Africanos, da USP (1978) (OLIVA, 2005).

OS GAÚCHOS E A MÍDIA:
GUERREIROS & GUERREIRAS


Em 1987, Susana Ribeiro e Juarez Ribeiro criaram o Cecune - Centro Ecumênico de Cultura Negra, em Porto Alegre. Desde então, são protagonistas no projeto Universidade Livre - Curso de Cidadania e Reconstrução da identidade Étnica; realizam mostras de cinema e vídeo com o recorte étnico negro; editam o Jornal Como é (1995 – 1998); publicam a Revista Conexão Negra (a partir de 2003); montam espetáculos musicais com gravação do repertório em CDs; mantém o coral Cecune Comunicação; realizam oficinas de produção de bonecas e artigos étnicos; e marcam presença na tradicional Feira do Livro de Porto Alegre, disponibilizando livros da temática do negro, inclusive bibliografias de comunicação, na Banca do Cecune.

Em 2001, foi criado o Núcleo de Jornalistas Afro-descendentes do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul. Santa Irene e Jeanice Ramos impulsionaram a criação do núcleo gaúcho, que já conta com um cadastro de 64 comunicadores sindicalizados. Em 2004, Vera Daisy Barcellos, Vera Cardoso, Silvia Abreu, Everton Costa (Tom), entre outros comunicadores, não mediram esforços para realizar I Seminário O Negro na Mídia: a invisibilidade da cor, em Porto Alegre, para debater os reflexos do preconceito na mídia. O núcleo do RS mantém interlocuções com a Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial do Sindicato dos Jornalistas/SP (Cojira –SP) e com a Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial do Sindicato dos Jornalistas/RJ (Cojira-RJ), também para a inclusão da temática na agenda nacional da Federação de Jornalistas.

O documentarista , radialista e DJ Claudinho Pereira muito tem contribuído com a divulgação da cultura afro-brasileira para os gaúchos. O documentário “Ilha Negra”, sobre as congadas da comunidade da região de Osório-RS - Terno de Maçambique e o documentário “O Príncipe Negro”, que resgata a vida do Príncipe Custódio na coleção Histórias Extraordinárias da RBS/TV, registram algumas particularidades da cultura afro-gaúcha. Ainda destaco o premiado Documentário “Brasil: Eterno Quilombo?”, dirigido por Julio Teixeira, premiado no Festival de Gramado e no EXPOCOM.

A Fundação Piratini do RS apresenta o comunicador Grandmaster Nezzo e sua equipe, no programa Hip Hop Sul da TVE. O programa contempla a cultura hip hop como um todo ao apresentar o grafite, os DJs, a dança e o rap, através de matérias sócio-educativas, entrevistas, clipes, oficinas e serviços de utilidade pública. Em 2006, há mais de 4 anos no ar, o programa já gravou em vários municípios gaúchos, no Rio de Janeiro e São Paulo.

Malu Viana é mulher negra, comunicadora em várias frentes. É membro do Conselho Nacional de Juventude (CONJUV) e da Organização da Frente Brasileira de HIP-HOP/RS. Exalta a juventude e a mulher no Hip Hop, impulsiona a Cufa/RS -Central Única das Favelas do RS e é atuante no programa Confraria Castro Alves, da TV Assembléia (Canal 16 da NET), que foi ao ar em 2005. Ao lado do Profº Waldemar Pernambuco Moura Lima e outros afro-comunicadores, Malu explora vários temas relacionados à cultura negra no programa.

Outros comunicadores afro-brasileiros têm desempenhado um papel importante na mídia gaúcha e brasileira, como por exemplo: Isabel Clavelin (Seppir) e Saroba – com ações na Restinga - Projeto Comunicativa da ACMUN; Oscar Henrique Cardoso – gaúcho na assessoria de comunicação da Fundação Palmares; Silvia Abreu – premiada produtora cultural; Julinho Ferreira – TV Unisinos; Mãe Carmem de Oxalá – Rádio Comunitária em Guaíba; Radialista Pai Áureo; Jones Lopes da Silva – do grupo de editores do jornal Zero Hora; Deivison.Campos – da Rádio Gaúcha; Julieta Amaral – da RBS/TV Rio Grande; Manoel Soares – da RBS/TV Porto Alegre, entre muitos outros.

A Mídia Étnica no Brasil também tem se projetado através da explosão das rádios comunitárias (a partir da década de 90); o início da circulação nacional do Jornal Irohin de Brasília (1995); a primeira publicação da Revista Raça (1996), a divulgação da temática afro-brasileira, incluindo a cultura Hip Hop, em sites da Internet; do programa “Negro em debate” da emissora Rede Vida, a aparição na TV do âncora negro, Heraldo Pereira no Jornal Nacional (2002), desencadeando o processo de exibição de jornalistas negras - âncoras no SBT, na TV Cultura e em outras emissoras.

Assim, esses e outros fatos históricos têm influenciado as análises dos meios de comunicação do Brasil, e deve estimular mais debates no Rio Grande do Sul, sobre a responsabilidade social da mídia em promover a igualdade racial num país com dimensão multicultural dos vários “brasis” .

REFERÊNCIAS & SUGESTÕES DE LEITURAS

ANDREWS, George Reid. Democracia racial brasileira 1900-1990: um contraponto americano. Estudos Avançados. São Paulo: vol.11, n. 30, May/Aug, 1997.
ARAÚJO, Joel Zito. A negação do Brasil: o negro na telenovela brasileira. São Paulo: Senac, 2000.
RAMOS, Silvia. (Org.) Mídia e Racismo. Rio de Janeiro: Pallas, 2002.
CONCEIÇÃO, Fernando. Mídia e Etnicidades: no Brasil e nos Estados Unidos. São Paulo: Livro Pronto, 2005.
GOMES, Nilma Lino. Alguns termos e conceitos presentes no debate sobre relações raciais no Brasil: uma breve discussão. In.: Educação anti-racista: caminhos abertos pela Lei Federal nº 10.639/03. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Brasília: Ministério da Educação, Secad, 2005.
HALL, Stuart. A identidade em questão. trad. Tomaz Tadeu da Silva & Guacira Lopes Louro. 7ª ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
MUNANGA, Kabengele. A difícil tarefa de definir quem é negro no Brasil. Estudos Avançados [online]. 2004, vol.18, no.50 [cited 21 May 2006], p.51-66.
OLIVEIRA, Dennis de. PAVAN, Maria Ângela. Identificações e estratégias nas relações étnicas na telenovela "Da Cor do Pecado". Trabalho apresentado ao NP13 - Comunicação e Cultura das Minorias do IV Encontro dos Núcleos de Pesquisa da Intercom, 2004.
PAIVA, R. Minorias flutuantes, novos aspectos da contra-hegemonia. Anais do 24. Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, Campo Grande/MS, setembro 2001 [cd-rom]. São Paulo: Intercom, 2001.
POTTES, M. G. S. & TOLEDO, V. L. P. Pesquisa Qualitativa no Brasil: Histórico, Evolução e Tendências . São Paulo: ESOMAR, 1991.
SANTOS, Irene (org). Negro em Preto e Branco: história fotográfica da população negra de Porto Alegre. Porto Alegre: Do Autor, 2005
SANTOS, José Antônio dos. Imprensa negra: a voz e a vez da raça na história dos trabalhadores brasileiros. http://www.ifch.unicamp.br/mundosdotrabalho/tex/josesantos.pdf
SANTOS, José Antônio dos. Raiou a Alvorada: Intelectuais negros e imprensa - Pelotas (1907-1957). Pelotas: Universitária, 2003.
SILVEIRA, Oliveira. Palavra de Negro. In. SANTOS, Irene (org). Negro em Preto e Branco: história fotográfica da população negra de Porto Alegre. Porto Alegre: Do Autor, 2005
SILVEIRA, Oliveira. Vinte de Novembro: história e produção do conhecimento. In. SILVA, Petronilha Beatriz Gonçalves e SILVÉRIO, Valter Roberto. (org). Educação e Ações Afirmativas: entre a injustiça simbólica e a injustiça econômica. Brasília: INEP, 2003.
SODRÉ, Muniz. Sobre Imprensa Negra. Facom/UFJF: Lumina - v.1, n.1, p.23-32, jul./dez, 1998 - www.facom.ufjf.br
BASTIDE, Roger e FERNANDES, Florestan. Brancos e Negros em São Paulo. Ensaio sociológico sobre aspectos da formação, manifestações atuais e efeitos do preconceito de cor. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1959.
MELLO, Marco Antônio Lirio. Memória e Negritude: Cultura, Identidade e Cidadania na Imprensa Negra em Pelotas. Pelotas: UFPel, 1992. Projeto de Pesquisa. (mimeo)
VAINFAS, Ronaldo. Ideologia e escravidão – os letrados e a sociedade escravista no Brasil Colonial. Petrópolis: Vozes, 1986.
PAIM, Paulo. Estatuto da Igualdade Racial. Senado Federa: Brasília,2003.
SILVA, Jacira. Vozes de Mulheres Negras na Imprensa Negra Pelotense: a luta por educação através dos escritos do jornal “A Alvorada.” UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS: 2001.
ALMEIDA, Guilherme. GOMES, Verônica. IKWA, Daniela. PIOVESAN, Flávia. Curso de Formação de Conselheiros em Direitos Humanos. Ágere Cooperação em Advocacy. Secretaria Especial dos Direitos Humanos/PR. Abril:2006
OLIVA, Anderson Ribeiro. O Ensino da História da África em debate. In.: Curso de Formação de Professores Ensino Afro-Brasil. Ágere Cooperação em Advocacy. Universidade de Brasília/DF: 2005.

10.22.2006

 
RESSURJE O NEGRALDEIA

por Oliveira Silveira

Photobucket - Video and Image Hosting

O informativo NEGRALDEIA, que circulou em 11 edições vinculado à Sociedade Floresta Aurora, volta agora em seu número 12 como veículo eletrônico da Associação Negra de Cultura. Nesse grupo, a iniciativa foi de Evandoir, que galvanizou, motivou, mobilizou e teve logo o apoio e a participação do pessoal na ANdC - Cristina, Neusa, Nilsa, Ruth, Aírton e Sídnei, além do signatário. Sai um informativo leve, com abordagens significativas e relevantes. Parabenizo Evandoir e o grupo todo pela realização. Pessoalmente recebo esse número 12 do Negraldeia como um presente. E tenho certeza de que se trata de um bom presente também para os seus visitantes on line ou em forma de fotocópia.

Longa vida ao NEGRALDEIA.

VISITE: www.negraldeia.blogspot.com

 
INTELECTUAIS NEGROS E IMPRENSA

Photobucket - Video and Image Hosting
por José Antônio dos Santos, licenciado e bacharel em História pela UFRGS, mestre com a dissertação “Raiou A Alvorada: intelectuais negros e imprensa, Pelotas (1907-1957)”, defendida junto ao Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade Federal Fluminense, Niterói - RJ.

O jornal A Alvorada foi fundado por operários negros na cidade de Pelotas em 1907. Direcionado para a comunidade negra daquela cidade e região, circulou, com pequenas interrupções, até 1965, o que caracteriza esse periódico da imprensa negra brasileira como o de maior longevidade no país. Segundo seus fundadores, o semanário obedecia um programa - lutar contra a discriminação racial e se posicionar em defesa dos trabalhadores.

O programa, definido quando da fundação do jornal, foi implementado por meio de artigos sobre saúde, lazer, educação, comportamento, moradia e legislação trabalhista, que buscavam reivindicar direitos, informar e educar os seus irmãos de raça. Também com a organização de cursos de alfabetização e a fundação de sindicatos, sociedades beneficentes, teatrais, musicais, culturais, carnavalescas, esportivas e bailantes. O objetivo era formar uma rede de pessoas e idéias que tornasse possível superar os limites sociais e raciais estabelecidos naquela sociedade. Rede que era mantida, não sem problemas, por laços de parentesco, interesses políticos e solidariedades, contra as adversidades sociais - racismo, analfabetismo, baixa estima e falta de condições materiais de todo tipo. O que delimitava os contornos daquela comunidade negra, frente ao restante da sociedade pelotense, principalmente, até a primeira metade do século passado.

Na medida em que os negros tinham seus espaços de sociabilidade segregados na cidade de Pelotas, eram proibidos de entrarem em determinados cafés, teatros, sociedades e escolas, fundaram seus próprios clubes bailantes, culturais e recreativos. Por exemplo, a Liga José do Patrocínio era uma federação de times de futebol, criada em 1919, para congregar as equipes da comunidade negra que não podiam participar da Liga de Futebol Rio Branco, formada exclusivamente por times de brancos. Também a Frente Negra Pelotense, fundada em 1933 nos moldes da Frente Negra Brasileira (São Paulo, 1931-1937), tinha como principal objetivo, a instrução dos irmãos de cor. As lideranças negras entendiam que a educação era uma das principais formas de inserção no mercado de trabalho, ascensão social e garantia de direitos. Uma vez que tinham acesso à educação, bastante dificultado naquela cidade e, conscientes de que, a emancipação dos negros tem que ser obra dos próprios negros, fundaram suas instâncias de combate ao racismo e de representação política.

Destacamos os nomes de quatro fundadores do A Alvorada: os irmãos Juvenal e Durval Morena Penny, donos do periódico, e Antonio Baobab e Rodolfo Xavier, redatores do jornal, definidos como intelectuais orgânicos da comunidade negra pelotense. Todos eles se autodenominavam – negros - o que é amplamente atestado em depoimentos, reportagens e artigos assinados, condição também comprovada por fotos divulgadas em primeira página nas datas de aniversário do jornal. Devemos considerar, no entanto, que, muito embora houvesse a consciência de negritude daqueles indivíduos, muitas vezes a caracterização fenotípica da comunidade negra em relação a eles era variada, algumas vezes eram caracterizados como mulatos, morenos, híbridos e, mesmo negros. Todos eles, além da autodenominação de negros e o parentesco, os dois primeiros eram irmãos e os dois últimos também, ainda tinham em comum as vidas marcadas pela busca da superação das dificuldades sociais e raciais vividas naquela cidade (1).

Ao que tudo indica Antonio Baobab foi o inspirador para a fundação do jornal e para a luta empreendida por eles a favor da alfabetização, contra a discriminação racial e por melhores condições de sobrevivência para os operários pelotenses. Antonio que nascera escravo, comprou a liberdade no início de 1880 e trocou o segundo nome de Oliveira para Baobab no início da década de noventa, em substituição ao antigo sobrenome que fazia referência a um passado nada olvidável, pois, conforme sabemos, o escravo levava o nome do seu dono. Quando da troca do nome, a referência se fez explícita ao continente de origem de sua família, onde o baobá é árvore sagrada, gigantesca, que reina soberana nas savanas da África. Demonstra uma certa consciência da sua ascendência africana e a necessidade de se voltar a ela para obter forças e lutar contra o preconceito e a pobreza. A troca de nome deu-se com o amadurecimento intelectual de Baobab, que se alfabetizou logo após ter assumido a condição de livre, pagando professores particulares e estudando à noite no curso de instrução primária da Biblioteca Pública Pelotense. Aos vinte e cinco anos, juntamente com seu irmão Rodolfo Xavier, que tinha dez anos, foram considerados, em 1883, dois dos sete alunos mais assíduos e adiantados daquela instituição de ensino, onde receberam menção honrosa (2).

Xavier foi colega de aula de Juvenal e Durval Morena Penny na Biblioteca Pública Pelotense (BPP) que, fundada em 1875, abrigou nas suas dependências cursos noturnos de alfabetização a partir de 1877 até a década de cinqüenta do século XX. A iniciativa da elite pelotense de criar os cursos noturnos de instrução primária, direcionada aos homens adultos e meninos pobres, tinha “o intuito de disciplinar, de incutir normas e valores referentes à necessidade do trabalho como forma de combater o ócio e a ‘vagabundagem’” (3). Esta iniciativa não foi um caso único na cidade de Pelotas, existiam muitos professores particulares e algumas iniciativas privadas, como o Club Abolicionista em 1882, em que a elite pelotense assumia o papel de iluminar, guiar, conduzir os destinos dos alunos. Na BPP foram todos classificados, hierarquizados, separados em grupos, “onde os brancos eram considerados melhores que os negros, os imigrantes melhores que os nacionais e os adultos melhores que os menores” (4). Apesar da classificação e separação por idade, nacionalidade, etnia e gênero, as aulas noturnas eram um espaço privilegiado. Por um lado, para atingir o projeto da elite de moralizar parte do povo (5)(imigrantes, operários e pobres em geral), incutia-lhes o amor ao trabalho e aos estudos, buscando atingir o progresso da cidade. Por outro, porque através do domínio do código escrito – saber ler e escrever – possibilitou que Baobab, Xavier e os irmãos Penny pudessem decifrar as suas histórias de vida e reconhecer nessas alguns pontos em comum. Ou seja, eram operários, negros e pobres e como tais foram hierarquizados e segregados na escola da Biblioteca reflexo das condições econômico-sociais e étnicas verificadas na cidade. Talvez este habitus (6) social comum entre eles, definido em boa parte pela rígida hierarquia das aulas noturnas na Biblioteca, assumisse o caráter de estruturas que, estruturadas pela elite pelotense, se tornaram estruturantes de uma consciência étnica possível naquele momento. O que iria definir-lhes muito do papel que desempenhariam como líderes da comunidade negra, tendo como certo que não foram eles receptáculos vazios de experiências anteriores. Experiências estas que se estendiam ao período da escravidão, onde já haviam adquirido relativa consciência das causas da situação precária em que se encontrava a maioria das pessoas da sua raça, bem como tornou possível assumirem posição de liderança naquela sociedade.

Baobab era o mais velho de todos eles, com trajetória peculiar, de escravo a líder operário, se tornaria nome respeitado na cidade. Em 1887 associou-se ao Clube Republicano, participou da diretoria de várias associações de trabalhadores junto com seu irmão Rodolfo Xavier, como S. B. Feliz Esperança (1880-1917) e Fraternidade Artística (1881-1911). Além disso, foram membros da Liga Operária no início desta entidade, formada por operários e patrões em 1890, da qual saem para fundarem a União Operária Internacional em 1895 (7), “composta de chapeleiros, curtumeiros, pedreiros, carpinteiros, ferreiros, calceteiros e outras classes” (8). A União Operária Internacional da qual Baobab foi presidente e Xavier secretário foi fundada para “combater a ‘Liga Operária’ que, segundo o último, era uma ‘Liga’ de patrões” (9). Fundam ainda o Centro Operário 1o. de Maio em 1899, formado só por chapeleiros, profissão que Baobab exercia na fábrica Bammann & Maia (10) e Xavier na Fábrica de Chapéus Cordeiro Viener da família Rheingantz (11). Em 1893 Baobab participou da equipe de redação do jornal operário Democracia Social, neste mesmo ano fez parte de comissão de greve como representante dos chapeleiros. Esta greve ajudaria a caracterizar Pelotas como o “berço do sindicalismo gaúcho” (12), o que nos dá uma idéia do intenso debate e aprendizado de política e engajamento em que viveram aquelas pessoas.

Acreditamos que Antonio Baobab, mais velho que os demais, com toda a experiência acumulada na liderança operária, professor e líder da comunidade negra, onde ocupou cargo na diretoria do centenário Asilo de Órfãos São Benedito, foi o iniciador e principal mentor da criação do jornal A Alvorada. Segundo Xavier, no último artigo citado, era “Inteligência lúcida e trabalhada por si própria, autodidata, bastante orientou os primeiros passos da ‘Alvorada’. A morte o arrebatou quando dele muito se esperava”. Baobab, como os demais, exercia dupla militância – líder dos operários e da comunidade negra pelotense – posição que ocupou até morrer. Meses após a fundação do jornal, Baobab se foi, mas a semente que plantou, frutificou por quase sessenta anos.

NOTAS
(1) Antonio Baobab e Rodolfo Xavier, segundo memória do último, eram descendentes, por parte de mãe, de escravo moçambique. Seu avô havia fugido da charqueada onde era cativo para lutar na Guerra dos Farrapos (1835-1845), talvez em busca da liberdade prometida pelos rebeldes farrapos aos escravos que permanecessem nas infantarias pé no chão até o final do armistício.
(2) Correio Mercantil, Pelotas, 10.04.1884
(3)PERES, Eliane T. “Templo de Luz”: os cursos noturnos masculinos de instrução primária da Biblioteca Pública Pelotense, 1875-1915. Porto Alegre, 1995. Dissertação de mestrado em Educação, FACED/UFRGS, p. 51
(4) PERES, Ibid. p. 141
(5) Projeto que permanecia na década de vinte, conforme podemos ver no anúncio de palestra inaugural da série “Palestra com o povo”, que seria proferida por Fernando Luis Osório, organizada pela BPP. Ilustração Pelotense. 16.06.1920 Ver também, anúncio da fundação em Pelotas da Associação Brasileira de Educação, cujo Presidente do Conselho Diretor era Joaquim Luis Osório, outro membro da família Osório, representante máximo da elite pelotense. Ilustração Pelotense. 01.12.26
(6) O conceito de habitus, definido como “sistema de disposições socialmente constituídas que, enquanto estruturas estruturadas e estruturantes, constituem o princípio gerador e unificador do conjunto de práticas e das ideologias características de um grupo de agentes”, foi usado para dar conta do grupo de pessoas que se aglutinou ao redor do jornal A Alvorada, no sentido de verificarmos quais aspectos tinham em comum. BOURDIEU, Pierre. Cap. 4 Campo do poder, campo intelectual e habitus de classe. In: A economia das trocas simbólicas. São Paulo, Ed. Perspectiva, 1992. p. 191
(7) Cf. LONER, Beatriz Ana. Classe operária: mobilização e organização em Pelotas, 1888-1937. Porto Alegre, Tese de doutorado em Sociologia, UFRGS, 1999. anexo B, p. 575 A fundação da União Operária Internacional foi em 12.12.1897, há que se considerar que Xavier estava com cerca de setenta anos de idade em 1949, sua memória podia falhar.
(8) “1o. de Maio”. A Alvorada, 05.05.1949 Artigo assinado por Rodolfo Xavier que faz uma retrospectiva da participação dele e de seu irmão no movimento operário pelotense, publicado no dia do aniversário do jornal.
(9) “Situação Operária III”. Rodolfo Xavier. A Alvorada, 09.09.34
(10) LONER, op. cit., 1999, p. 62 A autora considera a Bammann & Maia, uma das mais importantes fábricas de chapéus de Pelotas, naquela época tinha 30 operários.
(11) A família Rheingantz é considerada pela historiografia gaúcha como os pioneiros da indústria no Estado, fundaram em 1874 a manufatura têxtil de Rheingantz & Cia. em Rio Grande.
(12) MARÇAL, João Batista. Primeiras lutas operárias no Rio Grande do Sul. Porto Alegre, Ed. Globo, 1985. p. 109 Segundo o autor, entre 1890 e 1893, foram realizadas em Pelotas as três primeiras greves operárias ocorridas no Estado, mobilização trabalhista que vai se estender até 1898, ano em que acontece a quarta greve na cidade.

Texto originalmente publicado no Jornal Ìrohìn (www.irohin.org.br) e enviado pelo autor para o Blog NÓS SOMOS MÍDIA

 
MEMÓRIAS QUE FAZEM HISTÓRIA: ESCRITOS DE MULHERES NEGRAS NA LUTA POR EDUCAÇÃO ATRAVÉS DO JORNAL “A ALVORADA”
por Profª Drª Jacira Reis da Silva, Karine de Freitas Mattes e Luciane Kmentt da Silva, da Universidade Federal de Pelotas/RS

Photobucket - Video and Image Hosting
Jacira Reis da Silva

Inúmeros estudos são unânimes em afirmar que durante longo período, na história do nosso país, a escolarização dos negros era proibida. Embora, desde a Constituição Imperial de 1823, tenha se legislado a favor do ensino gratuito a todos, na prática ele se reduzia aos filhos dos homens livres.

A Câmara Municipal de Pelotas registrou, em 11 de setembro de 1886, na ata nº 127, uma Portaria da Presidência da Província, reclamando providências sobre o procedimento de alguns professores dessa cidade, que se recusam matricular, em suas aulas, meninos de cor preta. A preocupação do governo da Província em recomendar que não sejam recusadas matrículas de “meninos” de cor preta evidencia a exclusão das mulheres das salas de aulas, naquela época.

Os estudos na área da história da educação apontam que no período colonial, praticamente, inexistia qualquer preocupação com a educação feminina. Bastava às mulheres que elas soubessem realizar as prendas domésticas: cozinhar, bordar, fazer doces e tocar piano.

Guacira Louro, no artigo Mulheres na sala de aula aponta que para a população de origem africana, a escravidão significava uma negação do acesso a qualquer forma de escolarização. A educação das crianças negras se dava na violência do trabalho e nas formas de luta pela sobrevivência. As sucessivas leis, que foram lentamente afrouxando os laços do escravismo, não trouxeram, como conseqüência direta ou imediata, oportunidade de ensino para os negros. São registradas como de caráter excepcional e de cunho filantrópico as iniciativas que propunham a aceitação de crianças negras em escolas ou classes isoladas - o que vai ocorrer no final do século. (LOURO, 1997, p.445)

Abbade e Souza (1996) falam sobre uma dessas iniciativas ao relatarem a historia do Asilo Sagrada Família. Fundado por Madre Paulina, abrigou as vinte primeiras meninas negras para freqüentarem o curso preliminar. [...] Essas escolas começaram a ser criadas em função da lei de emancipação de 28 de setembro de 1871 que determina entre outras coisas aos senhores de escravos, que mandem ensinar a ler e escrever a todas as crianças. Em todo Império, porém, não existem talvez nem 10 casas onde essa imposição seja atendida. (ABBADE, SOUZA, 1996, p.2).

Em Pelotas, também foram criadas escolas que tinham por objetivo atender as meninas negras pobres. Entre elas, ainda em funcionamento, existe o Instituto São Benedito. Este Instituto foi fundado em 06 de fevereiro de 1901, por Luciana de Araújo, mais conhecida como ‘Mãe Preta’. A manutenção da casa era feita por donativos angariados pela própria Luciana, recolhidos em peregrinação pelas ruas da cidade. De 1901 até 1912, as aulas eram ministradas por mulheres negras, voluntárias que ensinavam às meninas carentes.

Como se pode perceber por esse breve resgate histórico a comunidade negra em geral e as mulheres negras, em particular, tiveram grandes dificuldades de acesso à escola. Ainda hoje, estudos apontam elevados índices de exclusão, evasão e repetência, que afetam de modo particular as crianças negras brasileiras. Por outro lado, sabe-se que essa dificuldade de acesso e permanência na instituição escolar foi um dos elementos que mobilizou a comunidade negra em prol da escolarização de seus filhos.

O presente artigo apresenta reflexões sobre essa luta tendo como suporte os escritos de mulheres negras, resgatados através de pesquisa desenvolvida na Biblioteca Pública Pelotense, tendo como fonte documental o Jornal A Alvorada.

A escolha desta fonte de pesquisa decorre do conhecimento sobre o importante papel que a imprensa exerceu como veículo de denúncia da situação social dos negros e como incentivadora da organização da comunidade negra em prol da educação. Como diz Bastide (1959), a imprensa negra teve finalidade e utilidade múltiplas: “foi órgão de reivindicação, solidariedade e de educação que ajudava a formar líderes, permitia comunicação entre a comunidade, revelava talentos literários” (p.39).

Em Pelotas, a organização e circulação do jornal “A Alvorada” revela esta finalidade. A existência deste jornal evidencia a iniciativa e liderança de um grupo negro que foi capaz de elaborar e colocar em circulação o seu discurso na luta por educação. Além disso, seu significado torna-se maior, na medida em que ele é espaço de expressão de vozes negras femininas num período onde o espaço público era predominantemente ocupado por homens brancos.

Compartilhando do mesmo esforço dos historiadores que se preocupam em resgatar a história de grupos historicamente silenciados e do reconhecimento que este esforço favoreceu a construção de uma história social das mulheres (PERROT, 1992), o presente trabalho procura evidenciar o papel das mulheres negras como sujeitos da história. Perceber o sentido que essa comunidade atribuía à educação; incluir na História da Educação, a história da resistência negra e o papel das mulheres como construtoras desta história, são os principais objetivos deste trabalho.

Metodologicamente tomamos como suporte teórico os princípios gerais da análise de conteúdo (BARDIN, 1992; ORLANDI, 1987) seguindo as três etapas básicas deste método, ou seja: pré-análise, descrição analítica e interpretação inferencial.

Na primeira etapa, que constitui a fase de reunião de informações e coleta dos dados, desenvolvemos a catalogação, fichamento dos artigos que tratam sobre educação. Após uma primeira leitura do material, que Bardin denomina de “flutuante”, identificamos e, posteriormente, fotografamos os artigos escritos por mulheres.

Esta pré-análise permitiu definir a abrangência da pesquisa que foi delimitada pela possibilidade de acesso à fonte documental que utilizamos. Neste aspecto, dispomos para consulta apenas dos exemplares do jornal “A Alvorada” que constituem o acervo da Biblioteca Pública Pelotense, composto pelos jornais que foram editados entre 1931 e 1934 e entre 1946 e 1957, perfazendo em período de 16 anos de circulação.

Nesta fase também procedemos a uma maior especificação do campo da pesquisa (artigos sobre educação) e do corpus da investigação (artigos escritos por mulheres negras)
Dentre os 575 artigos referentes ao tema educação, 304 foram identificados como escritos por mulheres, o que demonstra a preocupação da comunidade negra com sua situação educacional e, principalmente a participação das mulheres nesta luta.

A maior incidência de escritos femininos se concentra nos anos de 1933-34 e de 1947 até1950. Pode-se inferir, pelo contexto das referidas décadas que esta participação das mulheres no jornal foi influenciada, na década de 30, pela atuação da Frente Negra, nas décadas de 40 e 50 pelos primeiros movimentos sócio-culturais e econômicas que foram gradativamente modificando as concepções sobre a participação da mulher na sociedade e no mundo do trabalho, como a campanha pelo voto da mulher, por exemplo.

Na segunda fase - a da descrição analítica - buscamos perceber o “conteúdo manifesto” dos artigos divulgados.

Dentre os principais temas abordados pudemos destacar: o papel da mulher e da prudência na educação dos filhos; a importância da mulher não esquecer as ciências domésticas; educação sexual; a mudança de comportamento feminino para a valorização da raça; denúncias e “conselhos” sobre os malefícios do álcool, fumo e jogo; denúncias e paralelos entre a mulher negra da senzala e a mulher negra dos dias atuais: continuação da servidão; a educação física, intelectual e moral como meio de alcance da liberdade da nação; a educação como forma de ascensão social, econômica e emancipação da raça; a educação como forma de emancipação da mulher negra; desigualdade social; valorização da escola e dos professores; a importância e o prazer da leitura; valorização do trabalho realizado pela Frente Negra Pelotense; a importância da mulher negra elevar-se com união e cultura; a luta como fator de alcance à educação e o orgulho da raça; a importância da mulher negra saber vestir-se; incentivo à educação através de notícias dos negros que obtiveram sucessos profissionais; o progresso da raça através do auxílio dos governantes; a importância da mulher estar inserida no mercado de trabalho; a necessidade de sindicalização da mulher; denúncias sobre a preocupação da mulher com a moda e o seu desinteresse com as novas tendências políticas e sociais; divulgação e incentivo ao Comitê Feminino contra a guerra, em defesa da paz universal, cultura e humanidade; poesias e contos diversos; notícias sociais sobre: carnaval, festas familiares, formaturas, divulgação de fotos e entrevistas com rainhas de clubes sociais e negros artistas, entre outras. As mulheres negras também se ocupavam em reproduzir e comentar artigos de outros autores, notícias de outros jornais e divulgar campanhas em prol da saúde como, por exemplo, a necessidade da mulher cuidar de sua beleza e advertência sobre o câncer. Também divulgavam páginas literárias com contos e lendas nacionais. Preocupavam-se, ainda com questões relacionadas aos sentimentos femininos. A felicidade, a saudade, a morte, o sofrimento, o tempo, a beleza, o amor, a maternidade, o desengano, a esperança, são temas recorrentes, especialmente nas poesias e contos que escreviam ou reproduziam. Havia também uma coluna denominada “Conversa entre Comadres”, onde o principal assunto das comadres, Eudoxia e Micaela, eram: “fofocas da cidade.”.

Na fase da interpretação inferencial, tentarmos desvendar o “conteúdo latente” dos textos e, desse modo, procurar captar os sentidos por eles expressos. Nesta etapa, além dos textos do jornal, nos embasamos em estudos e documentos que oferecem referencial para analisar as relações negro-mulher-educação, no Brasil, tais como trabalhos de: Santos (2003); Silva (2000); Gonçalves e Silva (1998); Del Priori (1997); Heller (1992); Figueira (1991); Hasenbalg (1990); Gonçalves (1987); Pinto (1987); Cunha Junior (1979), entre outros.

No processo de estudo conseguimos perceber que a luta do negro por educação abrangeu tanto o campo da educação formal, como não formal e que os escritos das mulheres se preocupavam com esses dois campos.

No primeiro aspecto destaca-se a atuação da Frente Negra Pelotense, especialmente na década de 30, reivindicando instrução através do ingresso e permanência na escola. Neste sentido ela foi a grande incentivadora de campanhas pró-alfabetização, instrução e educação dos negros. É durante este período que se pode observar a presença de um maior número de artigos sobre educação, no jornal “A Alvorada”, bem como dos artigos femininos.

A partir de 1934, observa-se a presença de uma página feminina, onde se expressa o olhar da mulher em relação à sociedade da época. Nesta página estão presentes vários estilos de textos, tais como: poesias, notas sociais, artigos informativos, entre outros.

A criação da Frente Negrina, organização das mulheres em defesa da educação para toda a população negra, é uma das impulsionadoras da participação das mulheres como articulistas nesta seção do jornal, como podemos verificar pelo apelo colocado naquele ano:

Aceitam-se colaboradores para esta secção. Faz-se questão que sejam produzidas pelo elemento feminino. Assuntos sempre de interesse para o progresso intelectual, educacional e cultura da mulher negra. (A ALVORADA, 1934, p. 4)
Os artigos escritos por estas mulheres, portanto, continham forte chamamento à comunidade negra para instruir-se e elevar o seu nível educacional e relacionavam a educação de modo geral e a alfabetização, em particular, com a possibilidade de maior respeito e valorização.

Educae-vos e verás como desaparece essa nuvem densa de ignorância que vos venda os olhos, privando-vos de enchergarem o que é bello, lindo e maravilhoso, a EDUCAÇÃO. Educando-te educarás a ti e a nossa sociedade. (ANTONIETTA G. AVILLA, A ALVORADA, 1932, nº 57, p.3)

A educação e a alphabetização é a alma da nacionalidade! Educae-vos meus queridos irmãos e irmãzinhas e verás como sereis respeitadas e valorizadas. A educação te proporcionará horas felizes! A educação faz a alegria e a felicidade no lar. (Id.Ibdi)

No âmbito da educação não formal se desenvolveram, através do jornal, campanhas educacionais exortando a comunidade negra a manter um padrão de comportamento social diferenciado, evitando equiparar-se àquilo que era considerado inapropriado aos padrões da época, como forma de diminuir ou evitar a discriminação.

Os artigos das mulheres, em geral, refletiam o lugar social que os negros ocupavam e buscavam superar. Neste aspecto freqüentemente manifestavam preocupações com o comportamento em público, o modo de vestirem-se, os cuidados com os vícios.

É neste sentido que se manifesta Antonietta G. Avilla:
Ora, nós que já passamos pelo desgosto de sermos discriminados por termos a pelle preta (afixar de que isso não passa de ignorância) se não praticarmos bons actos maiores desgostos teremos a passar e mais tétrico será nosso modo de viver. Por isso quanta falta de educação e civilização mostramos, quando em um recinto social qualquer uma pessoa tem que falar aos presentes e ouvem-se de ambos os sexos gargalhadas estridentes, que tanto nos deprimem. Não se envergonham de uma pessoa da raça? Que não dirão de nossos costumes, de nossa terra? (A ALVORADA, 1932, nº 15, p.1)

Também uma autora que utiliza o pseudônimo de Última Romântica, exorta os jovens a evitarem vícios procurando instruir-se:
Meus amiguinhos, perdoai-me se com este meu despretencioso, porem sincero artiguetesinho, não ser-vos de toda agradável. Mas eu não posso deixar de falar diante do perigo, em que vejo vossas vidas. Vejo que o vício vos dominam. Vós que sois na maioria filhos de pais honrados, não deveis seguir este caminho vicioso. Deveis procurar os livros e vos instruir e educar. (ÚLTIMA ROMÂNTICA, A ALVORADA, 1934, nº 11, p.1)

O cunho moralista que impregnava as críticas ao comportamento da comunidade negra também estava presente nas colunas de “fofocas”. Como salienta Santos (2003), “estas colunas estavam diretamente relacionadas com o dia-a-dia daquela comunidade, comentavam as atitudes “imorais” das pessoas e situações que lhes eram próximas no cotidiano” (p.101).

Pudemos perceber este aspecto na “Conversa entre Comadres”:
_ Minha nossa senhora! Será que... que é uma ilusão de ótica? A minha comadre Eudóxia. Tanto tempo que não a via!
_ Olá minha querida Micaela! Até parece que estou sonhando...
_ Mas e as novidades? E a L. comadre o que me contas dela?
_ A não ser os seus modos fortes, com gritinhos, etc, pelas ruas, o resto tudo é “mar de rosas”.
_ Tem certeza eu é mesmo “mar de rosas?”.
_ Mais ou menos. E a melhor, comadre, sabe que na B. de Butuí tem três garotas que vão se sentar no portal das casas vizinhas e se danam a chamar os jovens com assoviosinhos “cariocas?”.
_ Não, Eudóxia, esta eu não sabia.
Mas sei daquela garota que anda de namoro com um craque do Brasil e que é da mesma zona.
_ Esta eu sei, e sei até que comentam certos treinos extras entre eles lá pelo gramado do Grêmio... (EUDÓXIA E MICAELA, A ALVORADA, 1947, nº 38, p. 5)

-_ Salve ela! Dá cá um abraço, comadre!
_ Ué!!! Que alegria são essas comadre? O que tens de novo para me contar?
_ Quase nada. Não tenho saído ultimamente com esses dias frios tenho me recolhido cedo.
_ Eu também tenho feito o mesmo, com exceção de quarta-feira que acomadre Aniceta esteve lá em casa e me contou cada coisa!...
_ Então conta logo comadre.
_ Bem, comadre, tu conheces aquela garota muito conhecida na nossa sociedade que mora na rua Gonçalves Chaves, nas imediações do antigo Colégio Félix da Cunha?
_ Ora, ora, senão vou conhecer.
_ Pois ela tem um namorado que até as 11 h da noite agente o encontra parado na porta. Quem por curiosidade tenta observá-los perde tempo, pois só se nota uma pessoa na porta... (EUDÓXIA E MICAELA, A ALVORADA, 1947, nº 43, p. 4)
Alguns artigos abordavam a questão social sobre a posição da mulher negra no mercado de trabalho da época relacionando-a com as dificuldades de escolarização.
Doloroso é falarmos na questão da educação feminina em nosso meio, tal o descaso de tantos pais e tantas mães, para com esta máxima necessidade. Doloroso porque as nossas irmãs de raça desde que nascem, começam a aprender ou a lavar vidros e panelas ou a usar pó de arroz e ruge. Aquelas se criam no serviço de coperagem e ficam eternamente crentes que negrinhas como elas nasceram para ser ‘tias velhas da cria do douto fulano.’ Raríssimas são as nossas irmãs de raça que saiba ler e escrever corretamente, lavar, costurar, bordar, recitar, cantar (ou tocar por música), fazer contas, falar sobre a raça, política ou assunto nacional. Não devemos cultuar o nosso estado de servilismo. Progredir é um dever. (SUETANIA, A ALVORADA, 1934, p. 5)

As mulheres também denunciavam, em sua página, as discriminações e preconceitos na escola, como indica o excerto abaixo transcrito:
[...] Os mestres por sua vez devem tratar os alunos com bondade, carinho e moderação e não fazer distinção entre cores e posses, porque isto não é culpa das pessoas que não dispõem de meios para ocorrer ao luxo, mas com seu trabalho honrado trilham um caminho honesto. (D. MARIA LUIZA TORRES, A ALVORADA, 1934, p. 2)

Também faz parte da estratégia de valorização dos negros a publicação de notícias sobre aqueles negros e negras que completavam sua escolarização ou desempenhavam o ofício de professores como podemos ver a seguir:
Com toda solenidade realizou-se a 15 do corrente a cerimônia de colação de grau no Teatro Guarany, às 21 horas, das novas professoras formadas pela escola Normal Assis Brasil. Entre as novas professoras estão nossas gentis conterrâneas senhorinhas Terezinha de Jesus R. da Silva, Maria Helena Brasil Sias, Giselda Iponema e Ilma da Silva, todas pertencentes ao quadro social do Clube Cultural Fica Aí. (A ALVORADA, 24/12/1934, p. 5).

Desperta negro do teu sono de antanho. Não és inferior, como prova tua capacidade mental. Temos em Pelotas os grandes professores Francisco Paula Alves e Joaquim Alves da Fonseca; Dr. Ari Lopes Machado, bacharelando em Ciências Comerciais e pintor de grandes recursos e futura glória nacional; professora Faustina Lessa Pires; Ogenia Cupertino; Luiza Ferreira, a distinta aluna do nosso Conservatório de Música; a jovem Mariana Lopes, normalista na Escola Normal da Capital e outras mentalidades que no momento não me recordo. [...] Acorda, ergue a cabeça, destolda teu cérebro que ainda está encoberto por nebulosas. (A ALVORADA, 7/01/1934, p. 3)

Os artigos citados acima puderam ser identificados como escritos femininos porque, mesmo sem o registro da autoria, fazem parte da página feminina, do jornal. Outros artigos, embora sem o nome das autoras, também puderam ser identificados como vozes das mulheres porque ao final havia esta expressão como identificação. É o caso, por exemplo, dos dois pequenos artigos que seguem:
Avante.
Estudar é elevar-se, é glorificar-se. Por meio do estudo é que se alcança nomes importantes e personalidades heróicas. Devemos nos divertir mas para isto devemos também estudar afim de alegrar nosso pais e engrandecer a nossa gloriosa e amada raça. Aí está porque devemos nos esforçar, para que unidos sejamos fortes e possamos fazer o que até hoje depois de 45 anos de emancipação ninguém fez: a campanha Pró-Educação. A autora (A ALVORADA, 14/01/1934, p. 6).

Por que toda mulher negra não procura elevar-se?
Por que a maioria vive em corredores, num ambiente nada higiênico, onde campeia a ignorância? A briga, a bebida, os maus tratos, terminando muitas vezes na delegacia é quase sempre o final dessas tragédias diárias em que o atrazo mental da nossa raça faz culminar. A vida é de sacrifícios!

Mas o sacrifício dos sacrifícios se exige: trabalha pela educação do vosso filho, porque sem saber nada podeis conseguir dele. Fazei-o estudar porque sem saber a instrução um não poderá orgulhar-se de dizer: o meu filho é bem educado. Só educando e instruindo podereis proferir aquelas palavras com orgulho. A educação é parte integrante de nossa felicidade, assim como o alimento mantém o corpo com a vida, assim nos educando, introduzimo-nos na vida social seguro de nosso papel perante os que nos rodeiam. Para a salvação de nosso problema que e problema da nossa raça duas cousas se exige: união e cultura. A Autora. (A ALVORADA, 07/01/1934, p. 5)
Também existem várias as poesias escritas pelas mulheres. O discurso poético dessas mulheres é rico em representações e expressões do imaginário que nos revelaram outros sentidos em suas memórias.

A poesia que segue parece manifestar a tristeza de uma mulher que é preterida por seu amado, diante da militância política dele.

Cada dia mais sinto o que representas para mim
Cada dia mais gosto mais e mais de ti,
Cada dia mais a felicidade mais sorri,
Cada dia mais, mais me entristece não teres como eu,
Um Deus que te proteja, um credo que te guie
e uma pátria cujo regime político te satisfaça.
Não devias mais ser socialista, ateísta, esquerdista
Mas tão somente artista e meu cada vez mais.
(LAUDETE FERNANDES, A ALVORADA, 1953, nº 26, p. 3)

Em síntese, podemos dizer que, através do jornal “A Alvorada” pudemos resgatar a memória histórica de um grupo datado e situado – as mulheres negras que viviam em Pelotas no período em que aquele semanário circulou na cidade – e, através desse resgate, perceber o grande esforço de organização da comunidade negra em geral e dessas mulheres negras, em particular, em prol da educação e da escolarização de seus filhos e filhas. Nessa luta salienta-se a importância que essa comunidade atribuía à educação como veículo de reconhecimento, valorização, e forma de preservar determinados valores morais.

A erradicação do analfabetismo, o acesso à instrução, enfim, a conquista da escolarização, eram vistos como meios para conquistar outros espaços no campo do trabalho, possibilitando ascensão econômica e social, em especial para as mulheres.
Além disso, o processo vivenciado reforçou o que já dissemos sobre a importância da imprensa negra, no campo da educação e de seu relevante papel na revelação de talentos literários, reivindicação de direito, formação de lideranças e construção de uma rede de solidariedade e comunicação entre a comunidade.

Por fim, resta evidenciar que o processo desta pesquisa nos indicou um fértil campo para futuros estudos, bem como reafirmando a importância do resgate da história dos grupos marginalizados através de documentos que expressam a voz desses grupos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
A Alvorada. Jornal. (1931-1956). Museu da Biblioteca Pública Pelotense.
ABBADE, Marinel e SOUZA Cyntia. Escolarização de Meninas Negras – um caso raro na história da educação paulista, no início do século. (Trabalho apresentado no IIIº Congresso Iberoamericano de História de la Educacion Latinoamericana. Caracas/Venezuela, 1996, p. 2 (mimeo).
BARDIN, Laurence. Análise de discurso, 1992.
BASTIDE, Roger e FERNANDES, Florestam. Brancos e Negros em São Paulo. Ensaio sociológico sobre aspectos da formação, manifestações atuais e efeitos do preconceito de cor. São Paulo: Cia.ed. Nacional, 1959.
CUNHA JUNIOR, Henrique. A criança (negra) e a educação. Cadernos de Pesquisa, FCC, São Paulo, n. 31, 1979.
FIGUEIRA, V. M. O preconceito racial na escola. NASCIMENTO, Elisa Larkim (org.) A África na escola. Brasília, Senado Federal, Gabinete do Senador Abdias do Nascimento, 1991.
GONÇALVES E SILVA, Petronilha Beatriz. Chegou a hora de darmos a luz a nós mesmas – situando-nos enquanto mulheres negras. Cadernos do Cedes, n.45, ps. 7-23, julho/1998
GONÇALVES, Luis Alberto Oliveira. Reflexões sobre a particularidade cultural na educação de crianças negras. Cadernos de Pesquisa, FCC, São Paulo, n. 63 p.27-30, nov., 1987.
HASENBALG, Carlos; SILVA, Nelson do Valle. Raça e oportunidades educacionais no Brasil. Cadernos de Pesquisa. FCC, São Paulo, n. 73, p. 5-12, maio. 1990
HELLER, Agnes. O cotidiano e a História. 4. ed.São Paulo: Paz e Terra, 1992
LOURO, Guacira. Mulheres na sala de aula. In: DEL PRIORI, Mary. História das Mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 1997, p. 445.
MELLO, Marcos Antônio Lirio, Memória e Negritude, Cultura, Identidade e Cidadania na Imprensa Negra em Pelotas. Pelotas: UFPel, 1992. Projeto de Pesquisa (mimeo)
ORLANDI, Eni Pulcinelli. Discurso e leitura. São Paulo: Cortez, 1987.
PERROT, Michele. Os excluídos da História. Operário, mulheres, prisioneiros. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
PINTO, Regina Pahim. A educação do negro: uma revisão bibliográfica. In Cadernos de Pesquisa, São Paulo: Fundação Carlos Chagas, nº 62, ago, 1987, p 3 – 34.
SANTOS, José Antônio dos. Raiou a Alvorada: intelectuais negros na Imprensa, Pelotas (1907-1957). Pelotas: Editora Gráfica Universitária, 2003.
SILVA, Jacira Reis da. Mulheres caladas: trajetórias de professoras negras, em Pelotas: produção/circulação de representações sobre os negros, na escola. (Tese de Doutorado em Educação), Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre: UFRGS, 2000.

10.21.2006

 
A CASA TÁ AÍ, É SÓ ENTRAR....
Jornalista Gaúcho, direto de Brasília

Photobucket - Video and Image Hosting
por Oscar Henrique Cardoso

Amigos, é com muita alegria que os convido para entrar em minha casa. Este espaço da WEB é a minha casa. É a nossa casa. É a casa de amigos, de parceiros, de curiosos, de brasileiros, de estrangeiros, de crianças, jovens, adultos, é a casa de todos nós. Uma casa nos dá o ar de liberdade, de intimidade, de amizade. É uma casa onde tem fé, onde tem amor, onde se crê em DEUS. Deus Jeová, Deus Jesus, Deus Oxalá, Buda... olha, Deus em sua infinita devoção e misericórdia. É uma casa que recebe gente do PT, do PSDB, do PDT, do seu PÊ...É a minha casa. Ela está aqui na WEB. Ela está em Brasília. Cidade que sintetiza um pouquinho deste imenso Brasil. Uma cidade com cores, sotaques, cheiros. Uma cidade que junto com SP, RJ, BH e outras tantas conglomera a maior concentração de brasileiros e brasileiras. Mas esta casa também é gaúcha. Porque sou gaúcho de Porto Alegre, morei em Caxias do Sul. Tem muito gaúcho espalhado pelo Brasil. É uma casa negra, onde tem um sorriso negro, um olhar negro. Em cada peça o negro está cantando a raiz de sua liberdade. É uma casa de luta, porque todos aqui que moram lutam por um Brasil plural, um país justo, sem fome, desemprego e miséria. É a casa da alegria, porque o dono da casa gosta de uma brincadeira, adora um sorriso, adora cantar, ver flores, ouvir os pássaros, ver cachoeiras, mares. Ver o belo e o bonito. É uma casa onde não tem dor, mas tem amor. Venha, visite, venha tomar um café, almoçar, jantar. A hora que você chegar na CASA DO OSCAR você será bem-vindo.

www.acasadooscar.blogspot.com

10.05.2006

 
É GAÚCHA A 1ª RÁDIO COMUNITÁRIA EM COMUNIDADE DE TERREIRO

Photobucket - Video and Image Hosting
Carmem Lúcia Silva de Oliveira e Leci Brandão

Desde 2005, a psicóloga Yalorixa Carmem de Oxalá mantém uma emissora de rádio, na Internet, através da Associação de Comunicação Conexão Comunitária - RÁDIO ESTÚDIO FM, em Guaíba/RS. Durante o Fórum Social Mundial, a 1ª Conferência ESTADUAL de Promoção da Igualdade Racial/RS e a 1ª Conferência NACIONAL de Promoção da Igualdade Racial/DF a radialista Carmem montou a RÁDIO ESTUDIO FM nos locais dos eventos.

Seu trabalho ganhou repercussão nacional, por ser a primeira emissora instalada em uma Comunidade de Terreiro, espaço de religiosidade afro-brasileira. Mãe Carmem, diretora espiritual da ASSOBECATY - Associação Beneficente Cultural Africana Templo de Iemanjá, está pleiteando um canal de rádio comunitária junto ao Ministério das Comunicações, com o apoio da Seppir - Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, que já conseguiu cerca de 18 concessões de rádios comunitárias para as Comunidades Remanescentes de Quilombos, em zonas rurais do território nacional.

A RÁDIO ESTÚDIO FM tem compromisso com a divulgação de conteúdos das áreas da educação, da cultura e da saúde para a comunidade do bairro Santa Rita de Guaíba, que tem uma significativa população afro-gaúcha.

10.04.2006

 
20 DE NOVEMBRO É SUGESTÃO GAÚCHA

Photobucket - Video and Image Hosting

Em 1971, Ano Internacional para Ações de Combate ao Racismo e a Discriminação Racial /ONU, a imprensa gaúcha abre espaço para a divulgação da primeira evocação no Brasil do dia 20 de novembro , uma manifestação do Movimento Negro gaúcho, em alusão ao dia da morte do lider do Quilombo dos Palmares, Zumbi.

O ato do Grupo Palmares, de Porto Alegre, em 1971, foi celebrado por negros e negras no Clube Náutico Marcílio Dias. A criação do grupo e a escolha da data, estudada e sugerida por Oliveira Silveira, foi fruto de encontros de negros na Rua da Praia (Rua dos Andradas), na capital gaúcha.

A partir de 1978, outros Estados passaram a celebrar o Dia Nacional da Consciência Negra, no dia 20 de novembro. Em 2003, a data passou a fazer parte do calendário escolar com a implementação da Lei 10.639/03, que inclui o ensino sobre a "História e Cultura Afro-Brasileira" nas escolas públicas e particulares do Brasil e dá outras providências.

O Prof. Hélio Santos destaca que o Movimento Negro é o movimento social mais antigo do Brasil. Constituído a partir de 1630, o Quilombo dos Palmares foi um dos maiores movimentos sociais na história do País. Na Serra da Barriga, em Alagoas, o quilombo foi espaço de resistência e conscientização onde a comunidade negra podia preservar as raízes africanas e pensar em alternativas para o povo negro no novo continente. No ano de 1670, a República dos Palmares já abrigava mais de 50 mil africanos refugiados do escravismo colonial que mais tempo durou no mundo, até 1888. Em fevereiro de 1694, o Quilombo dos Palmares foi exterminado.

Em 1986, o local foi tombado. A Serra da Barriga fica a 80 Km de Maceió, no município de União dos Palmares e é considerado o principal sítio arqueológico do país. O arqueólogo da Universidade de São Paulo (USP) Paulo Zanettini, o professor americano Charles Orser, da Universidade de Ilinois e o professor da Unicamp Pedro Paulo Funari foram os primeiros pesquisadores na serra. Hoje, o arqueólogo estadunidense Dr. Scott Allen, radicado no Brasil há cerca de uma década, é quem responde pelo sítio arqueológico da Serra da Barriga, junto com o Núcleo de Estudos e Pesquisas Arqueológicas da UFAL (Nepa).

Foto: Oliveira Silveira, o poeta da Consciência Negra, um dos criadores do Grupo Palmares, da Associação Negra de Cultura e conselheiro do CNPIR - Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial/Seppir

This page is powered by Blogger. Isn't yours?