1.10.2007
PALAVRA DE NEGRO
por Oliveira Silveira, no livro
Negro em Preto e Branco, de Irene Santos
Afora o trabalho braçal dos quatro séculos em que trabalho era sinônimo de negros construindo o Brasil para beneficiários de outras raças, etnias ou procedências nacionais, a imprensa, a literatura, outras artes e formas culturais demonstram eloqüentemente a participação negra na vida brasileira enquanto manifestação de seres pensantes, expressão de sensibilidade e ação por vontade própria.
A partir do século XVI (16 em arábico) o negro criou a liberdade de Palmares - estado, país, reino, república... - adentrando e ocupando nisso toda a centúria seguinte. E nesse mesmo XVII, os anos 1600 no calendário parcial dos cristãos, a oratura negra das letras de lundu, a literatura oral ou oralitura, como diz a afro-mineira Leda Martins, estavam bem presentes, com certeza. Já no setecentismo, o século XVII dos minérios, o maior brilho é do escultor, o artista Antônio Francisco Lisboa, o alejadinho. Na literatura e na música, já aparece o sangue negro em Caldas Barbosa e José Maurício, respectivamente.
No século XIX (19 em arábico), quando nasce verdadeiramente a literatura brasileira, o primeiro romancista é o negro Teixeira e Souza, mulato. E o primeiro editor nacional é um negro, o mulato Francisco de Paula Brito, justamente o precursor, também, da Imprensa Negra. Seu jornal, O Homem de Cor,1833, mudado para O Mulato ou o Homem de Cor. Tudo em lições de mestre Oswaldo de Camargo, escritor negro paulista, em o Negro Escrito , livro de 1988. Paula Brito, editor aina de A Marmota Fluminense, o seu jornalismo em ação. A pesquisa da jornalista negra Ana Fraga Magalhães Pinto para o mestrado em História na Universidade Nacional de Brasília, UNB, localiza novos títulos inclusive em 1833.
O maior escritor da época ou além dela, um polígrafo, senhor dos gêneros liteários e do estilo é o homem negro Machado de Assis. Mulato, negromestiço,negróide, ou misto afro... é tudo negro no Brasil. E tem Luiz Gama, Cruz e Souza - um continuum literário, artístico, cultural, em crescendo, impondo-se aos séculos XX e XXI. Sim, vinte e vinte e um.
Se ainda no século dezenove (XIX) José do Patrocínio era escritor, empresário e jornalista negro dono de jornais - Gazeta da Tarde , 1877-1887, e A cidade do Rio, 1887-1903- ou se o poeta Cruz e Souza tinha escritos abolicionistas ou simplesmente literários em jornais de Florianóplis , em Porto Alegre quem marca forte é o grupo do jornal O Exemplo. Cobrindo com interrupções e fases de o período 1892 a 1930, O Exemplo é iniciativa e organização de negros . Antecipa-se à importante imprensa negra paulista e paulistana: O Baluarte, Campinas,1903, A Pérola, São Paulo, 1911, O Menelick a seguir, O Clarim da Alvorada mais adiante.
O Exemplo, exemplar, fo seguido por outros órgãos gaúchos como os pelotenses A Cruzada, 1905, e A Alvorada, 1907, ou A Revolta, 1925 em Bagé, A Navalha, 1931 em Santana do Livramento - informes de Marco Antônio Lírio de Melo, revista Porto e Vírgula nº29, novembro de 1996.
Em O Exemplo (mais vinculado ao meio negro nos primeiros tempos), do diretor inicial Arthur de Andrade à derradeira direção de Dario de Bittecourt, o grande destaque é para a visão, a coerência, o espírito crítico e combativo de Esperidião Calisto, um barbeiro jornalista muito politizado. E tem literatura, humor, informes sobre teatros e clubes como o Floresta Aurora.
Se a imprensa negra de São Paulo acelerou com O Menelick, O clarim de Alvorada, A Voz da Raça ( da Frente Negra Brasileira)) e seguiu em frente, e se, no Rio de Janeiro, Abdias do Nascimento e o Teatro Experimental do Negro lançaram o também histórico Quilombo, 1948-1950, com sucedãnios na cena carioca e fluminense (SINBA, Boletim do IPCN, na década de 70), no Rio Grande do Sul houve , parece um hiato a partir de 1930. ou nos faltam registros. Mas a partir dos anos 60 sabe-se de informativos de clubes - sociedade Floresta Aurora, Clube Náutico Marcílio Dias, associação satélite Prontidão... O Ébano é de 1962.
Marco inequívoco é Tição, de Porto Alegre( grupo Tição, 1977 -1980). Revistas Tição em 1978 e 1979, dois números, e a publicação única do jornal Tição em 1980. Apresentação cuidada , boa diagramação e conteúdo envolvendo história, debate sobre racismo, questões sociais, políticas e culturais em geral, reafirmaram a possibilidade de uma imprensa negra vigorosa, renovada, séria e rica em abordagenstemas e profundidade.
Referência importantíssima Tição dialoga com a imprensa negra da década: o anterior e clandestino A Árvore das Palavras, Afro-Latino-América (in Versus), Jornegro, todos paulistas, e outras publicaçãoes do Rio já citadas, sobre as quais Amauri Mendes Pereira poderia falar melhor. Asim Tição participa, muito significativamente dessa história jornalística longa e heróica em nosso País.
Continuum literário nos séculos XX e XXI ccc ( calendário capenga dos cristãos ou calendário capenga cristão para quem prefere as coisas mais ajustadinhas). É que além dos citados Machado de Assis , Luiz Gama e Cruz e Souza o século dos anos 1900 teve o romancista e cronista Lima Barreto, poetas como Líno Guedes e Solano Trindade, seguidos por nomes como os de Oswaldo de Camargo e Carlos de Assumpção que iniciando antes mas juntando-se aos novos, fazem uma ponte para a literatura negra contemporânea. Negra ou de negros.
O vigor dessa fase iniciada nos anos de 1970 é atestado pela obra de escritores como Cuti, Éle Semog, Geni Guimarães, Arnaldo Xavier, Paulo Colina , Adão Ventura, Míriam Alves José Carlos Limeira, jônatas Conceição, Edson Cardoso Conceição Evaristo, Salgado Maranhão, Lepê Corrêa, Elisa Lucinda, Eustáquio Lawa (Eustáquio José Rodrigues), Edimilsom de Almeida Pereira, Ricardo Aleixo, Lande Onawale, Cristiane Sobral... A lista é longa.Os citados representam os omitidos, injustiças à vista. E Cadernos Negros, com o Esmeralda Ribeiro e Márcio Barbosa na trincheira representam uma periodicidade anual iniciada em 1978, alternando conto e poesia nas 27 edições completadas em 2004 com a marca do grupo Quilombhoje, em São Paulo.
Machado em seu tempo já escrevia peças teatrais. Em meados do século XX Abdias do Nascimento escreveu e fez montagens com o grupo do TEN. Rosário Fusco, Romeu Crusoé e Ironildes Rodrigues são também autores desse período rico. E Cuti, Joel Rufino dos Santos e outros fazem a dramaturgia contemporânea.
No Rio Grande do Sul, o poeta Luiz da Motta publicou comédia em O Exemplo (coleção 1902-1905). O mesmo jornal registra atividade teatral na sociedade Floresta Aurora desde o final do século XIX, resultando num duradouro Centro Dramático do clube em começos do sécolo XX. e desde o início o semanário ostenta poemas de negros, seções humorísticas delicosas, prosa variada. Semanário de LeoPardo taz em livro de 1926 as crônicas de Paulino de azurenha, escritas em estilo primoroso entre 1905 e 1909 para o Correio do Povo . Mais uma preservação de Aníbal Damasceno Ferreira. Preciosidade. O negro ou o misto afro Azurenha - LeoPardo - estava ao lado de Caldas Júnior na fundação do Correio e continuou como redator do jornal.
Na útima fase, 1916-1930, O Exemplo publica também autores brancos, alguns poetas da época, e seria preciso estudar a freqüência de negros em suas páginas. Para a lacuna entre os anos de 1930 e 1960, é bom lembrar que Antônio Lourenço, redator do jornal nos anos 20, publica sonetos no Correio do Povo ao menos na década de 70 e início dos anos 80, quando falece. Haverá outros autores entre o período Vargas e a ditadura militar de 1964? Pesquisar. A partir de 1965 o Teatro Saci fez bonito vencendo um festival Martins Pena ou montando a peça Um Cravo na Lapela, do dramaturgo branco Pedro Bloch, organizado sob a presidência de Eloy Dias dos Angelos e tendo Horacilda do Nascimento como vice-presidente a atriz Eni Maria de Neves e o ator Airton Marques representam os seus demais colegas nessa citação.
Da mesma época, surgindo em 1964 ou 65 é o GTM, Grupo de Teatro Marciliense, liderado por Luiz Gonzaga Lucena e integrantes do clube náutico Marcílio Dias. Aírton Silva e Geci Lemos exemplificam voz e talento no GTM. Pois o GTM e Grupo de Teatro Novo Floresta Aurora (com os irmãos Mauro Paré e Marilene Paré, entre outros) montaram juntos lá por 1969 o Orfeu da Conceição, de Vinicius de Moraes, no theatro São Pedro, tendo Aírton Marques como Orfeu. O ator negro gaúcho Breno Melo desmpenhou esse papel no cinema em orfeu no carnaval, de Marcel Camus, produção franco-brasileira. O filme ganhou Palma de Ouro em 1959 no festival de Cannes. Lá por 1971, ano em que surgiu o Grupo Palmares, de Porto Alegre , lançando a data 20 de novembro, foi possível assistir uma atividade teatral no Floresta em que sobressaiam o talento do ator não burilado e o potencial de Jorge Antônio dos Santos.
O Grupo Cultural Razão Negra inicio como Nosso Teatro em meados dos anos 1970 com a dramatização do conto Esperando o Embaixador, de Oswaldo de Camargo, montando na sequência três peças escritas e dirigidas por um componente do próprio grupo, Jaime da Silva: E Agora Negra? (1979) e O Convite (já em 1980) e uma outra intitulada o It...
A década de 70 já tem na poesia o trabalho de Alsina Alves de Lima, que em 1966 já mostrava um poema sobre a condição feminina em obra coletiva, Nossa Geração, do Diretório Estadual de Estudantes (RS). Talvez não tenha conseguido publicar seu livro Roda d'Água, de modo que, após sua morte, torna-se mais precioso o volume 6 dos Cadernos Literários do Instituto Cultural Português, editado em Porto Alegre em 1982. Ali estão um comentário crítico de Antônio Soares sobre a escritora e uma valiosa coleção de 15 poemas datados:1966 a 1981. Em Meu Poema, de 1971, ela diz:
Sendo pobre e mulher/ e sendo negra
quero meu poema/ como quero a vida
sem cercamentos/ sem desencontros
sem segregação.
Palavra de negra. E numa em que se apareceriam, dos anos 80 ao final do século, autores como Paulo Ricardo de Moraes, poeta e contista com experimentações no texto dramático e na área de vídeo; Ronald Algusto, poeta inventivo, inquiridor da linguagem, com incursões também na crítica literária, além de compositor e intérprete musical; Maria Helena Vargas da Silveira, com poemas e prosa vária- contos, crônicas e outras utilizações artísticas da palavra; ou Jorge Fróes, inédito em livros mas com poemas e contos esparsamente.
SANTOS, Irene (Org.). Negro em Preto e Branco: história fotográfica da população negra de Porto Alegre. Porto Alegre: Do Autor, 2005.
Créditos Imagens: Irene Santos
por Oliveira Silveira, no livro
Negro em Preto e Branco, de Irene Santos
Afora o trabalho braçal dos quatro séculos em que trabalho era sinônimo de negros construindo o Brasil para beneficiários de outras raças, etnias ou procedências nacionais, a imprensa, a literatura, outras artes e formas culturais demonstram eloqüentemente a participação negra na vida brasileira enquanto manifestação de seres pensantes, expressão de sensibilidade e ação por vontade própria.
A partir do século XVI (16 em arábico) o negro criou a liberdade de Palmares - estado, país, reino, república... - adentrando e ocupando nisso toda a centúria seguinte. E nesse mesmo XVII, os anos 1600 no calendário parcial dos cristãos, a oratura negra das letras de lundu, a literatura oral ou oralitura, como diz a afro-mineira Leda Martins, estavam bem presentes, com certeza. Já no setecentismo, o século XVII dos minérios, o maior brilho é do escultor, o artista Antônio Francisco Lisboa, o alejadinho. Na literatura e na música, já aparece o sangue negro em Caldas Barbosa e José Maurício, respectivamente.
No século XIX (19 em arábico), quando nasce verdadeiramente a literatura brasileira, o primeiro romancista é o negro Teixeira e Souza, mulato. E o primeiro editor nacional é um negro, o mulato Francisco de Paula Brito, justamente o precursor, também, da Imprensa Negra. Seu jornal, O Homem de Cor,1833, mudado para O Mulato ou o Homem de Cor. Tudo em lições de mestre Oswaldo de Camargo, escritor negro paulista, em o Negro Escrito , livro de 1988. Paula Brito, editor aina de A Marmota Fluminense, o seu jornalismo em ação. A pesquisa da jornalista negra Ana Fraga Magalhães Pinto para o mestrado em História na Universidade Nacional de Brasília, UNB, localiza novos títulos inclusive em 1833.
O maior escritor da época ou além dela, um polígrafo, senhor dos gêneros liteários e do estilo é o homem negro Machado de Assis. Mulato, negromestiço,negróide, ou misto afro... é tudo negro no Brasil. E tem Luiz Gama, Cruz e Souza - um continuum literário, artístico, cultural, em crescendo, impondo-se aos séculos XX e XXI. Sim, vinte e vinte e um.
Se ainda no século dezenove (XIX) José do Patrocínio era escritor, empresário e jornalista negro dono de jornais - Gazeta da Tarde , 1877-1887, e A cidade do Rio, 1887-1903- ou se o poeta Cruz e Souza tinha escritos abolicionistas ou simplesmente literários em jornais de Florianóplis , em Porto Alegre quem marca forte é o grupo do jornal O Exemplo. Cobrindo com interrupções e fases de o período 1892 a 1930, O Exemplo é iniciativa e organização de negros . Antecipa-se à importante imprensa negra paulista e paulistana: O Baluarte, Campinas,1903, A Pérola, São Paulo, 1911, O Menelick a seguir, O Clarim da Alvorada mais adiante.
O Exemplo, exemplar, fo seguido por outros órgãos gaúchos como os pelotenses A Cruzada, 1905, e A Alvorada, 1907, ou A Revolta, 1925 em Bagé, A Navalha, 1931 em Santana do Livramento - informes de Marco Antônio Lírio de Melo, revista Porto e Vírgula nº29, novembro de 1996.
Em O Exemplo (mais vinculado ao meio negro nos primeiros tempos), do diretor inicial Arthur de Andrade à derradeira direção de Dario de Bittecourt, o grande destaque é para a visão, a coerência, o espírito crítico e combativo de Esperidião Calisto, um barbeiro jornalista muito politizado. E tem literatura, humor, informes sobre teatros e clubes como o Floresta Aurora.
Se a imprensa negra de São Paulo acelerou com O Menelick, O clarim de Alvorada, A Voz da Raça ( da Frente Negra Brasileira)) e seguiu em frente, e se, no Rio de Janeiro, Abdias do Nascimento e o Teatro Experimental do Negro lançaram o também histórico Quilombo, 1948-1950, com sucedãnios na cena carioca e fluminense (SINBA, Boletim do IPCN, na década de 70), no Rio Grande do Sul houve , parece um hiato a partir de 1930. ou nos faltam registros. Mas a partir dos anos 60 sabe-se de informativos de clubes - sociedade Floresta Aurora, Clube Náutico Marcílio Dias, associação satélite Prontidão... O Ébano é de 1962.
Marco inequívoco é Tição, de Porto Alegre( grupo Tição, 1977 -1980). Revistas Tição em 1978 e 1979, dois números, e a publicação única do jornal Tição em 1980. Apresentação cuidada , boa diagramação e conteúdo envolvendo história, debate sobre racismo, questões sociais, políticas e culturais em geral, reafirmaram a possibilidade de uma imprensa negra vigorosa, renovada, séria e rica em abordagenstemas e profundidade.
Referência importantíssima Tição dialoga com a imprensa negra da década: o anterior e clandestino A Árvore das Palavras, Afro-Latino-América (in Versus), Jornegro, todos paulistas, e outras publicaçãoes do Rio já citadas, sobre as quais Amauri Mendes Pereira poderia falar melhor. Asim Tição participa, muito significativamente dessa história jornalística longa e heróica em nosso País.
Continuum literário nos séculos XX e XXI ccc ( calendário capenga dos cristãos ou calendário capenga cristão para quem prefere as coisas mais ajustadinhas). É que além dos citados Machado de Assis , Luiz Gama e Cruz e Souza o século dos anos 1900 teve o romancista e cronista Lima Barreto, poetas como Líno Guedes e Solano Trindade, seguidos por nomes como os de Oswaldo de Camargo e Carlos de Assumpção que iniciando antes mas juntando-se aos novos, fazem uma ponte para a literatura negra contemporânea. Negra ou de negros.
O vigor dessa fase iniciada nos anos de 1970 é atestado pela obra de escritores como Cuti, Éle Semog, Geni Guimarães, Arnaldo Xavier, Paulo Colina , Adão Ventura, Míriam Alves José Carlos Limeira, jônatas Conceição, Edson Cardoso Conceição Evaristo, Salgado Maranhão, Lepê Corrêa, Elisa Lucinda, Eustáquio Lawa (Eustáquio José Rodrigues), Edimilsom de Almeida Pereira, Ricardo Aleixo, Lande Onawale, Cristiane Sobral... A lista é longa.Os citados representam os omitidos, injustiças à vista. E Cadernos Negros, com o Esmeralda Ribeiro e Márcio Barbosa na trincheira representam uma periodicidade anual iniciada em 1978, alternando conto e poesia nas 27 edições completadas em 2004 com a marca do grupo Quilombhoje, em São Paulo.
Machado em seu tempo já escrevia peças teatrais. Em meados do século XX Abdias do Nascimento escreveu e fez montagens com o grupo do TEN. Rosário Fusco, Romeu Crusoé e Ironildes Rodrigues são também autores desse período rico. E Cuti, Joel Rufino dos Santos e outros fazem a dramaturgia contemporânea.
No Rio Grande do Sul, o poeta Luiz da Motta publicou comédia em O Exemplo (coleção 1902-1905). O mesmo jornal registra atividade teatral na sociedade Floresta Aurora desde o final do século XIX, resultando num duradouro Centro Dramático do clube em começos do sécolo XX. e desde o início o semanário ostenta poemas de negros, seções humorísticas delicosas, prosa variada. Semanário de LeoPardo taz em livro de 1926 as crônicas de Paulino de azurenha, escritas em estilo primoroso entre 1905 e 1909 para o Correio do Povo . Mais uma preservação de Aníbal Damasceno Ferreira. Preciosidade. O negro ou o misto afro Azurenha - LeoPardo - estava ao lado de Caldas Júnior na fundação do Correio e continuou como redator do jornal.
Na útima fase, 1916-1930, O Exemplo publica também autores brancos, alguns poetas da época, e seria preciso estudar a freqüência de negros em suas páginas. Para a lacuna entre os anos de 1930 e 1960, é bom lembrar que Antônio Lourenço, redator do jornal nos anos 20, publica sonetos no Correio do Povo ao menos na década de 70 e início dos anos 80, quando falece. Haverá outros autores entre o período Vargas e a ditadura militar de 1964? Pesquisar. A partir de 1965 o Teatro Saci fez bonito vencendo um festival Martins Pena ou montando a peça Um Cravo na Lapela, do dramaturgo branco Pedro Bloch, organizado sob a presidência de Eloy Dias dos Angelos e tendo Horacilda do Nascimento como vice-presidente a atriz Eni Maria de Neves e o ator Airton Marques representam os seus demais colegas nessa citação.
Da mesma época, surgindo em 1964 ou 65 é o GTM, Grupo de Teatro Marciliense, liderado por Luiz Gonzaga Lucena e integrantes do clube náutico Marcílio Dias. Aírton Silva e Geci Lemos exemplificam voz e talento no GTM. Pois o GTM e Grupo de Teatro Novo Floresta Aurora (com os irmãos Mauro Paré e Marilene Paré, entre outros) montaram juntos lá por 1969 o Orfeu da Conceição, de Vinicius de Moraes, no theatro São Pedro, tendo Aírton Marques como Orfeu. O ator negro gaúcho Breno Melo desmpenhou esse papel no cinema em orfeu no carnaval, de Marcel Camus, produção franco-brasileira. O filme ganhou Palma de Ouro em 1959 no festival de Cannes. Lá por 1971, ano em que surgiu o Grupo Palmares, de Porto Alegre , lançando a data 20 de novembro, foi possível assistir uma atividade teatral no Floresta em que sobressaiam o talento do ator não burilado e o potencial de Jorge Antônio dos Santos.
O Grupo Cultural Razão Negra inicio como Nosso Teatro em meados dos anos 1970 com a dramatização do conto Esperando o Embaixador, de Oswaldo de Camargo, montando na sequência três peças escritas e dirigidas por um componente do próprio grupo, Jaime da Silva: E Agora Negra? (1979) e O Convite (já em 1980) e uma outra intitulada o It...
A década de 70 já tem na poesia o trabalho de Alsina Alves de Lima, que em 1966 já mostrava um poema sobre a condição feminina em obra coletiva, Nossa Geração, do Diretório Estadual de Estudantes (RS). Talvez não tenha conseguido publicar seu livro Roda d'Água, de modo que, após sua morte, torna-se mais precioso o volume 6 dos Cadernos Literários do Instituto Cultural Português, editado em Porto Alegre em 1982. Ali estão um comentário crítico de Antônio Soares sobre a escritora e uma valiosa coleção de 15 poemas datados:1966 a 1981. Em Meu Poema, de 1971, ela diz:
Sendo pobre e mulher/ e sendo negra
quero meu poema/ como quero a vida
sem cercamentos/ sem desencontros
sem segregação.
Palavra de negra. E numa em que se apareceriam, dos anos 80 ao final do século, autores como Paulo Ricardo de Moraes, poeta e contista com experimentações no texto dramático e na área de vídeo; Ronald Algusto, poeta inventivo, inquiridor da linguagem, com incursões também na crítica literária, além de compositor e intérprete musical; Maria Helena Vargas da Silveira, com poemas e prosa vária- contos, crônicas e outras utilizações artísticas da palavra; ou Jorge Fróes, inédito em livros mas com poemas e contos esparsamente.
SANTOS, Irene (Org.). Negro em Preto e Branco: história fotográfica da população negra de Porto Alegre. Porto Alegre: Do Autor, 2005.
Créditos Imagens: Irene Santos